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Acidente ambiental previsível, com data e hora marcada



Antonio Germano Gomes Pinto (*) 

Infelizmente uma mistura de despreparo, hipocrisia e, possivelmente corrupção, foram, mais uma vez, os principais protagonistas de mais um acidente ambiental, em Minas Gerais, quase na divisa com o Estado do Rio de Janeiro. Acidente esse, uma reprise de um outro provocado pela mesma empresa, na mesma região e mais ou menos na mesma data ano passado. Aquele tipo de acidente já esperado e quase com dia e hora marcados. Vamos fazer uma análise dos fatos.

A mineradora explora a bauxita, nome dado ao minério de alumínio, constituído pelo óxido de alumínio hidratado, material esse absolutamente inócuo, inofensivo, natural e abundante na natureza.

Podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, que nossas panelas domésticas de alumínio, freqüentadoras de nossas cozinhas, são muito mais agressivas ao meio ambiente e ao organismo humano que o óxido de alumínio que “contamina” a água de lavagem utilizada na extração do minério, pois a bauxita é praticamente insolúvel, não se dissolve na água e nem se decompõem em seus respectivos íons.

O alumínio só é tóxico, nocivo sob forma metálica porque, neste estado, ele se torna reativo e capaz de se dissolver no ambiente ácido de nossos temperos e ser absorvido pelo organismo e chegar até mesmo ao sistema nervoso central. Há pesquisas que afirmam ser o alumínio metálico de nosso vasilhame doméstico um dos principais indutores do mal de Alzheimer.    

O alumínio, sob a forma de sais, é utilizado na medicina, em produtos farmacêuticos, no tratamento de águas sob a forma de sulfato de alumínio, devido a sua ação coagulante, retira a argila coloidal, aquela turbidêz da água tornando-a potável. O hidróxido de alumínio é utilizado como antiácidos, etc. O alumínio sob forma oxidada é inofensivo e pode ser descartado sem riscos ou preconceitos no meio ambiente. 

A mineradora de bauxita simplesmente lava o minério de alumínio, utilizando água, e produz um efluente composto de água e lama.

Esse efluente deveria passar por um meio filtrante, onde a lama seria retida e a água, sumariamente filtrada, deveria retornar ao sistema industrial, isto é, retornar ao processo de lavagem e nunca ser “acumulada” numa lagoa de decantação. Nossos empresários têm, infelizmente, uma espécie de fixação por lagoas de maturação e decantação. O efluente, seja ele qual for, tem que ser tratado e destinado e nunca estocado ou armazenado como se fosse uma mercadoria ou insumo. 

Assim procedendo, haveria uma grande economia de água, em torno de 80% e o volume do efluente teria uma redução próxima desta grandeza, fato que reduziria enormemente o volume do rejeito porque haveria uma redução do volume de água e, uma conseqüente aceleração da solidificação por secagem ou desidratação da massa da argila acumulada, facilitando sua retirada do local de risco, levando-a para fábricas de cerâmica ou para aterros.

Aliás, é bom lembrar que as argilas ricas em óxido de alumínio são consideradas excelentes matérias primas na fabricação de cerâmicas desde tijolos na construção civil até peças ornamentais.

Fica aí a idéia e uma pergunta sem resposta: por que não se tomam providências adequadas, estudando caso a caso, evitando acidentes como esse?

Acredito que por preconceito, por hipocrisia ou falta de vontade política ou mesmo economia descabida.

Ou será por que vivemos no pais da impunidade e do jeitinho?

Vamos pedir a Deus para que as coisas mudem antes que seja tarde!

* É bacharel e licenciado em Química, químico industrial, engenheiro químico, especialista em Recursos Naturais com ênfase em Geologia, especialista em Tecnologia e Gestão Ambiental, professor universitário e autor de duas patentes registradas no INPI e em grande número de países.
E-mails:
aggpinto@hotmail.com ou ag.pinto@uol.com.br



Artigo de Antonio Germano Gomes Pinto
Ambiente Brasil