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O Brasil mais de perto - 4.520km de Belém a Blumenau



Como todo biólogo, Pedro Wilson Bertelli, 50 anos, conhecia bem o que a literatura científica dizia sobre a vegetação e a fauna brasileira. Mas para todo bom pesquisador e curioso, conhecer apenas pelos livros não tem graça. Um dos motivos que fez Bertelli carregar a bicicleta a tiracolo e aventurar-se por estradas e lugares insólitos foi justamente este: queria desprender-se da imagem do Brasil dos livros, onde tudo é delimitado com precisão e generalismos. Queria ver caatinga, queria ver cerrado, queria ver serra.

Dia 24 de janeiro retornou de sua terceira grande viagem de bicicleta. Pedalou sozinho 4.520 km de Belém (PA) até Blumenau. O resultado das aventuras é que agora o professor de Biologia da Furb sabe bem que o país é feito de nuanças que mapeamento nenhum poderia detalhar.

- A maior parte das capitais eu já conhecia, mas de avião, não tinha visto o entorno da cidade. Queria conhecer o relevo, a topografia de cada região. - conta o biólogo. - Aprendemos que Tocantins é plano. É nada!

Professor da área de Zoologia, viajou também de olhos atentos às espécies de animais que encontrava nas demais regiões do país. Além da pesquisa científica, Bertelli procurou absorver o máximo das culturas que encontrou. Para ele, esta é inclusive uma das vantagens de se viajar sozinho - ter que interagir.

Fotos e informações sobre as viagens farão parte de uma exposição no Shopping Neumarkt.

(
mariana.furlan@santa.com.br )

Bertelli diante do casario histórico da cidade de Goiás Velho,
terra da poetisa Cora Coralina

Foto(s): Arquivo Pessoal/Santa


Mais caro do que parece

Viajar milhares de quilômetros sobre uma bicicleta trata-se mais de excentricidade do que de uma alternativa econômica de fazer turismo. Bertelli alerta que, surpreendentemente, viajar de bicicleta torna-se mais caro que percorrer a mesma distância de carro. Isto porque o que se economiza no combustível do automóvel, gasta-se no "combustível" do ciclista.

Para pedalar uma média de 10 horas por dia, sob o sol de dezembro e janeiro, o professor precisou consumir cerca de 15 litros de líquido por dia - 10 litros de água e o restante em sucos e refrigerantes, para repor a perda de açúcar. A água - sempre mineral para evitar contaminações - precisava ser consumida nas garrafas de 500ml, mais práticas para serem carregadas, e que custavam R$ 1,50 cada, em média. Ou seja, o litro de água chega a ser mais caro que o de gasolina.

Outro gasto que deve ser previsto pelo ciclista que planeja se aventurar pelas estradas incandescentes do país é o do protetor solar. Indispensável, ele precisa ser reaplicado a cada hora. Nos primeiros três dias de viagem, Pedro Bertelli utilizou nada menos do que quatro protetores solares.

De acordo com os cálculos do biólogo, que contou com o auxílio de patrocínio para parte das despesas, a compra de líquidos e filtros solares somou entre R$ 60 a R$ 70 por dia. Incluindo os gastos com alimentação e hospedagem, a média é de R$ 1,50 por quilômetro.

Serviço
Exposição Pedalando pelo Brasil - No Shopping Neumarkt, Rua 7 de Setembro, 1213, Centro, Blumenau. Informações: (47) 3326-5566. De 16 a 23 de fevereiro.


Fim de ano na estrada

Os últimos três Réveillons e Natais de Pedro Bertelli foram na estrada. Nesta última viagem, o biólogo voou de Blumenau a Belém do Pará no dia 5 de dezembro. A partir do dia 10, pôs os pedais para funcionar e só parou 45 dias depois. Do Pará, passou pelo Maranhão, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná.

A primeira grande viagem de bicicleta foi em dezembro de 2004 e janeiro de 2005. Bertelli, com menos planejamento e preparação física do que agora, foi de Blumenau à cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, percorrendo o litoral. Foi, literalmente, até a Caixa Pregos, cidade baiana.

A segunda viagem, de dezembro de 2005 a janeiro de 2006, partiu de Natal (RN), mas dessa vez o percurso se distanciou do litoral e passou por Brasília até chegar ao solo blumenauense.

Mas Bertelli lembra que é preciso de muito treino e força de vontade para encarar tanta estrada e superar o isolamento. Para ele, esta foi uma maneira de testar os próprios limites e superar-se fisicamente. É necessário planejamento até para saber o quanto pedalar por dia, já que no dia seguinte as pernas não podem estar doloridas para encarar mais horas e horas de bicicleta, seguindo por acostamentos de estradas que, decididamente, não foram feitas para ciclistas.

- Eu não sei se isso é persistência ou teimosia - avalia. - Cheguei a levar broncas de quem parava para dar carona e eu não aceitava. As pessoas acham que você está sofrendo.

Os percalços do caminho também foram encarados com tranqüilidade. Muitos consertos na bicicleta, dificuldade de acesso à alimentação em alguns pontos, o controle da diabete e a perda de parte da bagagem, com documentos, mapa e câmera fotográfica - todos superados.

Bertelli afirma que nunca pensou em desistir:

- Só deu pena porque ia terminar. A gente fica é pensando nas outras - diz, satisfeito e ainda com os calos da última viagem nas mãos.

As três viagens
Total percorrido:  14 mil km
Pneus furados: 44 (um a cada 320 km)
Câmaras de pneu descartadas: 18
Pneus descartados: 7
Raios utilizados: 27
Tempo médio de pedalada por dia: 8h30min
Velocidade média: 15 km/h
Distância média percorrida por dia: 120 km/dia

O roteiro



Biólogo relata viagem de bicicleta
Jornal de Santa Catarina