Com um sorriso estampado no rosto e repetidas palavras de motivação, Joana Crista Krüger não deixa transparecer as marcas da difícil vida que leva. Há seis anos, ela aprendeu a enxergar oportunidade onde a maioria só vê sujeira. Sair às ruas para recolher o que os outros jogam fora se transformou em rotina para a avó de 46 anos. Ela é catadora desde que a renda obtida como costureira passou a ser insuficiente.

A certeza de que o lixo pode servir como fonte de trabalho e recursos levou Joana à presidência da Associação dos Trabalhadores Coletores de Resíduos Recicláveis de Blumenau (Reciblu), que em agosto completa nove anos. Por mês, a entidade recicla em média 65 toneladas de lixo. Um galpão no início da Rua Amazonas, no Distrito do Garcia, serve de sede da entidade. Para lá, são levados o que os 42 associados recolhem pela cidade. Das 5 mil toneladas de lixo produzidas em Blumenau, apenas 2% são recicladas pelo Samae. A coleta seletiva cobre 45% das ruas do município.

- O serviço é deficitário. Mas não queremos ser os únicos a reciclar. Com ameaças como o aquecimento global, Blumenau não vai escapar: a mudança de hábitos é necessária. Nosso objetivo é incentivar a educação e estimular outras pessoas a reciclar - esclarece o diretor de operações do Samae, Ramiro Nilson.

- Não é viável a prefeitura disponibilizar caminhão em todas as ruas se não houver conscientização. As duas coisas precisam caminhar juntas - defende o educador ambiental e professor de meio ambiente José Sommer, do Instituto Blumenauense de Ensino Superior (Ibes).

Dos materiais reciclados no município, o cobre é o que tem maior valor. Joana chega a vendê-los por R$ 10 o quilo. E o vidro é o que vale menos no mercado. Por ele, são pagos em média R$ 0,03 o quilo.

- Falta as pessoas perceberem que elas têm responsabilidade pelo lixo que produzem. Os resíduos só chamam a atenção quando a coleta deixa de passar um dia na sua casa. A reciclagem não é maior em função do apelo consumista e falta de educação ambiental - conclui o ambientalista e biólogo Lauro Bacca.

- Há uma crise de percepção sobre a conseqüência que pode resultar nesse comportamento. Embora tenha crescido a consciência coletiva, a falta de discernimento sobre as limitações do planeta é uma ameaça - argumenta o professor de Gestão Ambiental e de Resíduos da Univali, Alexandre Leripio.

Enquanto empurra o carrinho, chamado carinhosamente por ela de BMW, Joana tem orgulho do trabalho que garante o sustento dela e dos três filhos. Em um dia, ela percorre a passos largos em média 45 quilômetros e chega a carregar até 300 quilos de resíduos recicláveis.

- Acredito que vai chegar o dia em que as pessoas vão reciclar todo o lixo que produzem. Se a gente não cuidar do meio ambiente, quem vai cuidar? - questiona a catadora de lixo.