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Longa vida ao tamarindo



Tudo começou há 10 anos, com a construção de uma ponte, há muito tempo esperada, que apontava ameaçadoramente justo na direção de um tamarindo centenário. Tendo tido envolvimento e participação ativa no episódio, sinto-me impelido a relatar alguns acontecimentos de bastidores sobre esse inusitado e exitoso acontecimento em Blumenau.

Diante de nosso inconformismo e insistência para que a árvore fosse salva, fomos procurar mais informações sobre o tamarindo, do qual surgira o nome espontâneo da nova ponte - mesmo muitos anos antes de ela sequer existir. Quase que nos conformávamos com a sentença de morte do portentoso exemplar quando, na Furb, o professor Leo Probst comentou que a árvore fora plantada por sua bisavó, Thusnelda Paul, ninguém menos que uma das filhas do nosso naturalista maior, Fritz Muller!

Foi a gota dágua: a árvore, embora não seja nativa, além de referência na paisagem da cidade, agora era mais - era histórica! No entanto, os engenheiros insistiam que, para salvá-la, o desvio de traçado da alça de saída da ponte implicaria desapropriação de terreno próximo, elevando significativamente os custos da obra há tantos anos esperada pela comunidade. "Os engenheiros deveriam ter tido a sensibilidade de ver tudo o que havia no caminho da ponte, antes de colocá-la naquela exata posição", cheguei a comentar.

A grande virada aconteceu quanto Lauro Vianna, um dos diretores da Momento Engenharia Ambiental, uma das empresas que estava construindo a ponte, prometeu que, se não houvesse realmente outra alternativa, ele faria o transplante do tamarindo por conta de sua empresa. Era, porém, necessária a ajuda de maquinário de peso (literalmente).

O empresário Genildo Constâncio se dispôs a colaborar, cedendo o então mais potente dos guindastes de sua empresa. Luis Merico determinou que Dalva Assini e outros técnicos da Faema estudassem o assunto para melhor assessorar. Mário Tachini, então diretor do Departamento de Serviços Urbanos, assumiu o preparo da "cama adubada" para receber condignamente a centenária árvore em seu novo lugar. Diante das inúmeras dúvidas que persistiam, José da Silva, jardineiro da Furb e ex-jardineiro de Burle Marx, no Rio de Janeiro, tranqüilizou a todos, dizendo que tudo ia dar certo. E deu, pois o final feliz, resultado de união de esforços e respeito à história e ao meio ambiente, é de conhecimento público.


LAURO EDUARDO BACCA/ Ecólogo e ambientalista
Jornal de Santa Catarina