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Outdoors tornaram quase impossível que turistas ou moradores do Vale registrem a paisagem



“Outdoors tornaram quase impossível que turistas ou moradores do Vale registrem a paisagem”

11/09/2023   

Outdoors: ladrões de paisagens

Eles se acham no direito de privatizar, invadir, obstruir, poluir e emporcalhar a paisagem que é de todos. Na opinião deste colunista, constituem um dos mais chocantes exemplos de que a região dos vales não merece o epíteto turístico de Vale Europeu. Se temos tanto orgulho de nossas origens europeias, como explicar tamanha poluição visual, verdadeiros roubos de paisagem, como se vê por aqui?

Quando, no dia 2 de outubro de 1995, o presidente Fernando Henrique Cardoso entregou o novo traçado da BR-470 ligando Navegantes a Blumenau pela margem esquerda do rio Itajaí, descortinou-se para todos, moradores e visitantes, novas e espetaculares paisagens deste verdejante vale, que, por alguns meses, pelo menos, mereceu, naquele trecho, ser chamado de Vale Europeu.

Não demorou muito, qual insidioso e fatal câncer paisagístico, os grandes painéis de propaganda, mais conhecidos por “outdoors”, ou suas iluminadas versões chamadas de “front-light”, começaram a roubar aquelas novas paisagens inauguradas por FHC.

Hoje torna-se quase impossível um turista ou mesmo morador do Vale obter um belo ângulo para fotografia sem que um ou mais desses horrorosos monstrengos se metam na frente, obstruindo a paisagem, que não pertence ao dono da mídia nem ao seu cliente. A paisagem é de todos.

Mas, lamentavelmente, foi roubada, sob o beneplácito dos órgãos públicos que ignoram a regulamentação desse tipo de propaganda invasiva e agressiva. Se estivessem, não teríamos que amargar o caos paisagístico criado.

“A quantidade de painéis instalados nas margens do rio Itajaí-Açu, BR-470, rodovia Jorge Lacerda e BR 101 é de centenas e talvez milhares. A BR-470 entre Rio do Sul e Navegantes e a BR-101 entre Palhoça e Curitiba têm o horizonte mais poluído do mundo”, diz a Acaprena em ofício dirigido ao Ministério Público.

Na rodovia Jorge Lacerda, a visão leste da bucólica igrejinha de São Luiz, à beira da estrada em Ilhota, está tampada. Em Blumenau, um painel desses, instalado bem diante de um dos mais importantes sítios históricos da cidade, na rua Itajaí, debocha da memória do grande naturalista Fritz Müller.

O acesso à encantadora Pomerode está cada vez mais invadido. O mesmo vale para Brusque e região. Esse descaso está tomando conta de praticamente todas as nossas rodovias. Essa condenável invasão de inimigos da paisagem agora se espalha e aumenta, dia após dia, também pelo alto vale.

Com eles, Ibirama corre o risco de perder o “slogan” de cidade dos belos panoramas. Ou será que alguém se importa com isso? Ituporanga, Taió e muitas outras belas localidades também começam a ter seus melhores panoramas escondidos atrás deles.

Não há como escapar. Trata-se de uma forma de propaganda arbitrária e invasiva. Quem não quer ver TV ou ouvir rádio desliga o aparelho. Numa revista, basta virar a página e continuar a leitura. Mas, não tem como desligar outdoors das paisagens.

Eles estão sempre ali, a impor seu interesse individual ao interesse maior que é de todos. Aliás, a própria mídia se autopromove criando chavões do tipo “não tem como não ver” ou “viu como você viu?”, reconhecendo que é impossível fugir desse tipo de anúncio.

Outdoors destruidores de paisagens. Melhor não tê-los. Mas, se tê-los, melhor regrá-los.

Está quase impossível aos turistas, fotógrafos e demais apreciadores enquadrar um belo panorama no trecho da BR 470 entre Rio do Sul e Navegantes e o trecho da BR 101 entre Palhoça e Joinville e até Curitiba, considerados por alguns como as paisagens das mais belas, mas de visual mais poluído do mundo.

Fotos de Leocarlos Sieves – Acaprena.

Fonte: https://omunicipioblumenau.com.br/outdoors-tornaram-quase-impossivel-que-turistas-ou-moradores-do-vale-registrem-a-paisagem/