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O parque da virada



A luta pela preservação das florestas que cobrem a Serra do Itajaí foi longa. Começou com os denodados esforços do empresário Udo Schadrack para preservar sua propriedade no morro Spitzkopf em Blumenau. Seguiu-se o empenho da Acaprena, desde 1981, para estender essa preservação a toda a Serra do Itajaí, que estava sendo tomada de assalto por uma violenta exploração madeireira, irregular e fora de controle e que muitos prejuízos estavam causando aos ecossistemas locais e a toda a sociedade.

Apesar da inegável pertinência de um Parque Nacional no local, surgiram fortes reações contrárias ao mesmo e que obtiveram a adesão de lideranças institucionais e políticas poderosas, incluindo o próprio governador catarinense. Muitos dos que lutaram pelo parque experimentaram a opressiva sensação de um Davi defrontando-se contra um Golias.

O parque finalmente foi criado em 4 de junho de 2004, mas, por força de liminar obtida na Justiça, passou a existir de fato somente a partir de 28 de abril de 2005. Logo a seguir, as biólogas Fabiana Dallacorte e Cintia Gruener, estimuladas pela botânica Lúcia Sevegnani, da Furb, apresentam pela Acaprena um projeto de elaboração do plano de manejo do Parque Nacional ao PDA (Programas Demonstrativos da Mata Atlântica), do Ministério do Meio Ambiente, que foi aprovado com louvores. Quase três anos de intensos e sofridos trabalhos depois, envolvendo cerca de 30 técnicos e estagiários, o plano foi finalmente aprovado. O plano de manejo é o documento fundamental, que vai orientar todas as ações de gestão e controle do parque, equivalente a um plano diretor de uma cidade.

O Parque Nacional da Serra do Itajaí foi o primeiro do Brasil a ter seu plano de manejo aprovado em menos de cinco anos de sua criação, incluído o tempo em que permaneceu suspenso na Justiça. Além disso, as indenizações a serem pagas aos proprietários já estão anunciadas. Se tudo correr bem, em breve terá quase 20% de sua área regularizada. Motivo de júbilo e orgulho para nós, catarinenses, e para a Acaprena em especial. O discurso derrotista foi vencido pela crença num ideal, muito trabalho e dedicação pelo bem- estar maior da sociedade atual e das futuras gerações. No contexto nacional de um país tão cheio de deficiências, onde a proteção ambiental quase não recebe atenção, o Parque Nacional da Serra do Itajaí tem tudo para ser um exemplo para o Brasil, o parque da virada.


LAURO EDUARDO BACCA/ Biólogo e ecologista
Jornal de Santa Catarina