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Áreas alagáveis? Deixem como estão



LAURO EDUARDO BACCA/AMBIENTALISTA

Enchentes, enxurradas e inundações afligem severamente muitas das nossas cidades, causando prejuízos de toda ordem e, não raro, perdas de preciosas vidas humanas. Mesmo sendo um assunto freqüente em nossos noticiários, percebe-se pouco empenho na busca da real solução ou pelo menos minimização deste grave problema, incluída aí a necessidade de convivência com as enchentes em grande parte dos casos.

Urbanização implica obrigatoriamente impermeabilização dos solos. Os sítios urbanos da Região dos Vales catarinense, por exemplo, estão instalados onde originalmente havia uma floresta, que normalmente funcionava como uma gigantesca esponja absorvedora da água das chuvas. No lugar da mata original, geralmente surge um campo ou lavoura para em seguida ali crescer a cidade. Aí, a imensa esponja florestal original é substituída por uma gigantesca capa impermeável feita de telhados, concreto e asfalto.

Se a cidade crescer desordenadamente para os morros - caso de Blumenau - , pior ainda. A água da chuva passa então a escoar imediatamente sem maiores obstáculos, avolumando-se no fundo dos vales e rios, que por sua vez são cada vez mais aterrados e estrangulados, não sobrando espaço para as águas se avolumarem, a não ser invadindo ruas e edificações. Aí, de pouco adiantam as retificações e outras dispendiosas obras estruturais normalmente feitas para corrigir o problema. A cidade de São Paulo que o diga.

Entre as medidas que podem ser tomadas já a curto prazo, pensando no futuro, nenhuma talvez seja mais barata e eficiente do que a proibição total da prática tão disseminada de aterro em qualquer área alagável, independente de cota ou do curso dágua em questão. É necessário mantermos esses espaços preciosos para acúmulo de excesso de água de chuvas, aliviando os efeitos das enxurradas e enchentes

Isso não significa que essas áreas sejam totalmente inutilizadas. Respeitadas as APPs, muitas delas podem ser ocupadas com edificações, desde que erigidas sobre pilotis e sem qualquer aterro. Os piscinões de concreto são caros e nem sempre funcionais. Se aprendermos a trabalhar com a natureza, e não contra ela, todos serão beneficiados. Nesta e nas futuras gerações.



Artigo de Lauro Bacca
Jornal de Santa Catarina