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Parques naturais: amados até a morte?



Por Erik Stokstad
ScienceNOW Daily News
3 Julho 2008

 

Unidades de conservação podem ser ruins para animais e boas para as pessoas. Esta é o contra-intuitivo subtítulo de um novo estudo mostrando que os dólares conservacionistas gastos em infraestrutura dentro e no entorno destes parques atraem novos habitantes, que por sua vez investem em caça ilegal e desmatamento.

 

A extensão de unidades de conservação usada para a conservação da vida selvagem cresceu cerca de 500% nas últimas três décadas. Em alguns países, entretanto, políticos têm se oposto à criação de novos parques e reservas, argumentando que elas causam prejuízo à população rural que perde acesso à caça tradicional e outros recursos. Mas o que a lógica não harmoniza com Justin Brashares, um biólologo conservacionista da Universidade da California em Berkeley. Ele encontrou que populações de localidades no entorno de parques nacionais em Gana estavam aumentando. Ao mesmo tempo, antílopes e outros animais selvagens em parques estão sofrendo declínio pelo aumento da caça. Brashares trabalhou em conjunto com o ecólogo George Wittemeyer da mesma universidade, para compreender a situação. Eles analisaram dados das Nações Unidas para população de áreas que circundam 306 reservas naturais rurais na África e América Latina. “Em 245 reservas, o crescimento populacional foi maior que 10km além dos limites das reservas que em áreas rurais equivalentes em outros locais”, relata o grupo na edição de 4 de Julho da revista Science. Em média, as taxas de crescimento populacional foram quase o dobro daquelas em outras áreas rurais. “Parques se tornaram ímãs para assentamentos humanos” diz Brashares.

 

O que é atraente sobre viver próximo a um parque? Os pesquisadores notam que investimentos internacionais em conservação muitas vezes têm um componente de desenvolvimento que ajuda a melhorar a vida de habitantes locais, conseguindo escolas, estradas, clínicas, e outros serviços. De fato, a o crescimento populacional no entorno das reservas foi positivamente correlacionacionado à quantidade de fundos internacionais para aconservação obtidos. O mercado de trabalho local desempenha um papel importante, também: pessoas tendem a mover-se preferencialmente a parques que oferecem relativamente mais empregos. “A mensagem vem muito alta e clara”  diz o ecológo tropical S. Joseph Wright, do Instituto de Pesquisas Tropicais do Smithsonian em Balboa, Panamá. “Parques são atraentes e melhoram a vida das pessoas.”

 

Mas a imigração não melhora a situação da vida selvagem nos parques, Brashares e Wittemyer citam outros estudos que mostram aumento nas taxas de desmatamento, mineiração, caça e incêndios dentro de unidades de conservação cercadas por humanos. Por exemplo, quando a dupla observou dados em 55 reservas florestais, eles encontraram que aquelas com taxa de 4% de aumento populacional anual sofreram mais que 5% de perda de florestas, e aquelas com taxa de 2% perderam menos que 5% de floresta. Wright tem sua própria história: os pesquisadores do Smithsonian contrataram trabalhadores locais para trabalhar na reserva do Panamá e então descobriram que os parentes dos trabalhadores se mudaram para lá e começaram a caçar.

 

Brasheres e Wittemyer propõem que uma solução pode ser investir dos dólares de conservação em cidades e locais longe das reservas para dar incentivo às pessoas se mudarem para longe dos parques. “O limite dos parques tornaram-se campos de batalha pelo controle de recursos naturais”, diz Brashares. “Estas batalhas estão apenas começando e irão se intensificar nas próximas décadas, e nós precisamos nos planejar para isso”.

 

[Tradução: Rudi Ricardo Laps]



Por Erik Stokstad