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SC decreta situação de emergência em 64 municípios



O governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira (PMDB), assinou, nesta quarta-feira (9), o decreto de situação de emergência nos municípios atingidos pelas chuvas, vendavais e tornados. Até o momento, segundo último boletim da Defesa Civil Estadual, divulgado às 20h, 64 municípios foram afetados em SC - o que equivale a quase 22% das 293 cidades do Estado.

O decreto serve para que os recursos de ajuda do governo federal sejam liberados com mais rapidez. Silveira encaminhará o documento a Brasília, acompanhado de um relatório com a avaliação dos danos provocados pelas fortes chuvas, e solicitará ao ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, a liberação imediata de recursos federais para o socorro e assistência às vítimas, informou nota divulgada pelo governo.

De acordo com a nota, a necessidade imediata do Estado é de pelo menos 5.000 colchões e entre 400 mil e 500 mil telhas para atender a população que teve suas casas devastadas.

A Defesa Civil Estadual de Santa Catarina informou que mais de 17 mil pessoas tiveram que deixar suas casas devido às intempéries que atingiram o Estado desde a noite de segunda.

Há, ao todo, 1.478 desabrigados em SC, 16.115 desalojados e 286 pessoas deslocadas de suas residências. Em todo o Estado, mais de 88 mil pessoas foram atingidas e 17.131 edificações sofreram alguma avaria. Quatro pessoas morreram - todas no município de Guaraciaba, uma das mais atingidas, que decretou estado de calamidade pública ontem - e 170 ficaram feridas em todo o Estado.

Até o fim da tarde desta quarta, 32 municípios já haviam decretado situação de emergência no Estado. São eles: Santa Terezinha do Progresso, São Domingos, Vargeão, Vargem Bonita, Dionísio Cerqueira, Ipuaçu, Monte Castelo, Corupa, Shroeder, Abelardo Luz, Entre Rios, Lebon Regis, Ouro Verde, Passos Maia, Rio das Antas, São Bernardino, São Miguel da Boa Vista, Tigrinhos, Formosa do Sul, Água Doce, Galvão, Irani, São José do Cedro, Barra Velha, Calmon, Coronel Martins, Itaiopolis, Santa Terezinha, Jupia, Quilombo, Salto Veloso e Ponte Serrada.

Esse número, bem como os de municípios atingidos, ainda pode subir.

A agricultora Cleonice Lazzari, de 38 anos completados ontem, internada no hospital São Lucas, em Guaraciaba, com hematomas por todo o corpo, conta momentos de terror com a passagem do tornado por sua propriedade, na comunidade Cedeflores. Sua filha, de 10 anos, sofreu cortes profundos nas costas e também segue internada. Sua mãe, que quebrou as pernas, teve alta nesta manhã.

Tornado - O Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri/Ciram) confirmou nesta quarta-feira (9) que três tornados atingiram três cidades de Santa Catarina na madrugada de ontem, causando mortes, ferimentos e desabamentos. As cidades atingidas foram Guaraciaba, Santa Cecília e Salto Veloso.

De acordo com a meteorologista Francine Gomes, do Epagri/Ciram, os tornados atingiram a categoria F1 na Escala Fujita de classificação de tornados - que vai de F0 a F6 -, com ventos entre 120 a 180 km/h (veja abaixo).

Segundo Gomes, ainda está sendo apurado se outras localidades podem ter tido tornados. "Não se pode descartar que pode ter tido", disse. Em outros locais do Estado, segundo ela, foram registrados ventos acima de 100 km/h, o que pode caracterizar um tornado.

Para confirmar os tornados, foi feita uma análise dos estragos causados pelos ventos, já que não havia imagens que confirmassem o fênomeno, que aconteceu no período da noite. "Foi feita essa análise dos estragos causados pelos ventos. Não registramos a ocorrência dele, o funil propriamente dito, mas outra forma de determinar se houve ou não um tornado é pelos estragos que ele provoca, como estruturas retorcidas, árvores cortadas ao meio, quando parece que veio um machado e cortou, ou um rastro de maior destruição, carros virados ao contrário", detalhou a especialista.

Segundo a metereologista, três fatores atuando ao mesmo tempo favoreceram a formação dos tornados em SC. "Foi uma tarde muito quente, a temperatura máxima chegou a 32ºC em Itapiranga, cidade vizinha de Guaraciaba, foi um dia abafado, com disponibilidade de umidade no ar, e a chegada de frente fria que já tinha causado estragos no sul favoreceu a formação de nuvens com desenvolvimento vertical, que são nuvens de tempestade", explicou.

Ela disse que não há possibilidade de o tornado que atingiu a Argentina ser o mesmo que chegou a Guaraciaba, cidade bem próxima à fronteira. "Pode ser uma área grande de instabilidade que formou vários tornados. Um tornado não tem tempo de vida útil para atingir vários municípios ao mesmo tempo", afirmou. Segundo ela, a nuvem que dá origem a um tornado se forma e se dissipa em uma hora. "O tornado, em si, se forma e se dissipa, em média, em 20 minutos", completou.

Gomes descarta novos tornados no Estado, mas lembra que não é muito difícil prevê-los, devido ao seu tempo curto de vida. "A região vai continuar com tempo instável, há chance de temporal entre a tarde de sexta e sábado. Mas a tendência é que não sejam tão intensos como esses de ontem, pois estamos com temperaturas mais baixas e já choveu muito nos últimos dias, diminuindo a umidade", apontou.

Para o diretor da Defesa Civil de Santa Catarina, major Márcio Luiz Alves, a previsão de chuvas preocupa. "A previsão de chuvas intensas para o restante da semana ainda preocupa. A possibilidade de acúmulo de água no solo mantém o alerta", afirmou.

Guarapiava - A visita que Silveira faria ao município de Guaraciaba na tarde desta quarta-feira teve que ser cancelada devido às chuvas que ainda caem na região, segundo a prefeitura da cidade. De acordo com a assessoria de imprensa, o avião que o levava não conseguiu pousar na cidade.

A cidade de Guarapiava, no extremo oeste do Estado, foi a mais afetada pelas chuvas e vendavais. O último boletim da Defesa Civil Estadual apontava a morte 4 pessoas na cidade, além de outras 89 que ficaram feridas. A chuva prejudicou 9.100 pessoas em Guaraciaba e 15 comunidades foram atingidas, com diversas residências, salões comunitários, aviários e galpões destruídos. Há 250 pessoas desabrigadas e 7.368 desalojadas. Na cidade, 667 edificações sofreram algum dano, sendo que a casa de 60 famílias foi completamente destruída e outras 120 foram destelhadas.

Devido aos estragos em escolas e também ao difícil acesso de veículos, a prefeitura suspendeu, nesta quarta-feira, as aulas na cidade por tempo indeterminado.

A BR-163 - que liga o Sul ao Centro-Oeste do país e que corta a região - estava obstruída por árvores e destroços arrastados pelo vento, mas já foi liberada, segundo João Carlos Grando, secretário de desenvolvimento regional de São Miguel do Oeste. De acordo com ele, as áreas rurais de Guaraciaba ainda estão sem energia elétrica. "Estimamos que há cerca de 40 mil pessoas sem luz no extremo oeste do Estado", afirmou.

Seis equipes de trabalho com integrantes da Defesa Civil, da Polícia e da Prefeitura atuam em Guaraciaba, segundo Grando, que foi deslocado pelo governo estadual para acompanhar os trabalhos no local.

De acordo com Grando, foram distribuídas 3.000 mil cestas básicas e 1.000 colchões, além de 30 mil litros de água potável e 50 mil metros de lona nos municípios de Guarapiava, Cedro e Anchieta. "Colocamos um abrigo à disposição da população, que fica na Linha Caravaggio, mas poucas pessoas foram para lá. São áreas rurais e as pessoas preferem ficar nos centros comunitários ou na casa de parentes e amigos."

Segundo nota do governo estadual, foi instalado ainda um posto de coleta de doações no centro de convivência de idosos, no centro de Guaraciaba.
"Situação é desesperadora", diz prefeito de Guaraciaba

Além da ajuda humanitária, outra preocupação é com a saúde ambiental, afirmou o secretário de desenvolvimento regional. "É preciso dar tratamento adequado aos animais. Há alguns mortos que precisam ser enterrados, e os vivos precisam ser recolhidos. As vacas precisam ser ordenhadas, pois se não o fizermos, isso pode matá-las", disse.

Ainda não foi feito levantamento sobre prejuízos econômicos. O município de Guaraciaba é o segundo maior produtor de leite de Santa Catarina, com duas grandes empresas: Cedrense e Terra Viva (cooperativa de assentados da reforma agrária). O tornado destruiu pastagens, salas de ordenha, galpões e matou parte do rebanho. "Não há como mensurar o estrago. Nossa preocupação é com o socorro humano, neste momento", afirmou o coordenador da Defesa Civil do município, Tarcísio Hanauer.

Previsão do tempo - O tempo continuará instável em praticamente todo o território dos Estados de São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul nesta quinta-feira (10), segundo Olívio Bahia Neto, meteorologista do CPTEC/Inpe (Centro de Previsão e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Na capital paulista, podem ocorrer pancadas de chuva, mas sem intensidade. De acordo com Bahia Neto, a probabilidade de chuva forte é maior nas regiões centro-oeste e sul do Estado.

No Paraná, pode chover com intensidade na porção norte do Estado e em Santa Catarina na faixa centro-leste. Já no Rio Grande do Sul, devem ocorrer pancadas mais intensas nas regiões norte e nordeste, segundo o meteorologista.

O meteorologista disse que dificilmente choverá em São Paulo (capital) e no oeste de Santa Catarina com a mesma intensidade de segunda e terça-feira. "Mas, como a situação nesses lugares já está crítica, qualquer chuva poderá causar estragos", ressaltou.

Também pode chover forte no triângulo mineiro, sul de Minas Gerais, leste de Goiás, norte e leste do Mato Grosso do Sul e centro, leste e sul do Mato Grosso.


Ana Sachs/ UOL Notícias