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Biodiversidade é vital para o Brasil



Não basta aprovar legislações relativas à conservação de Florestas nativas, sem pensar em cada aspecto da natureza necessário para a manutenção da Biodiversidade. A opinião é do pesquisador Alessandro Galli, um dos autores de um artigo publicado na revista americana "Science" no mês passado, que mostrou o fracasso das políticas mundiais para conter a redução da Biodiversidade.

De acordo com dados da pesquisa, nenhum dos governos signatários conseguiu cumprir o pacto para proteção da Biodiversidade, de 2002, das Nações Unidas. Em entrevista exclusiva para o Razão Social, Galli disse que países do hemisfério Sul podem ser os mais afetados, já que possuem economias dependentes de recursos naturais.

- Os dados da pesquisa foram alarmantes para todos.

Mas os riscos são ainda maiores para áreas como a América Latina, que tem sua economia apoiada na agricultura e em outras formas de exploração de recursos naturais. Com a redução da Biodiversidade e a crescente pressão dos seres humanos sobre o planeta, a Terra vai reduzindo cada vez mais a capacidade de nos prover esses recursos. Os governantes precisam entender que a Biodiversidade é a maior riqueza das nações. Não há como fazer legislações Florestais, por exemplo, sem colocar a Biodiversidade como assunto prioritário.

Se espécies forem extintas, setores da economia também serão.

A natureza é uma cadeia.

Como um dos principais membros da organização Ecological Footprint, Galli foi responsável pelos indicadores de pegada ecológica, como um dos fatores que podem estar relacionados à perda da Biodiversidade e concluiu que, mesmo em casos onde há redução da pegada, não se garante a conservação das diversas espécies de Fauna e Flora.

É o caso do Brasil, por exemplo, que, apesar de ter reduzido sua pegada ecológica em 10% entre os anos de 1961 e 2006 (de acordo com cálculo de 2009), continua com graves problemas relacionados à Biodiversidade.

- Ainda não há indicadores que relacionem diretamente a pegada ecológica e a queda de Biodiversidade. Estou estudando casos específicos de países para fazer essa comparação. Mas, em relação ao Brasil, podemos ver que o país reduziu sua pegada, mas continua ganhando cada vez mais espécies para a lista vermelha, que aponta risco de extinção. É preciso pensar nisso agora, porque as consequências podem ser enormes.

O pesquisador lembra que, em outubro deste ano, governantes estarão reunidos em Nagoya, no Japão, para propor um novo acordo pós-2010 para tentar frear a situação.

Código Florestal é questionado

A ecóloga Daniela Lerda, coordenadora de Projetos Estratégicos do Fundo Brasileiro para Conservação da Biodiversidade (Funbio), concorda com a ideia de que as legislações ambientais hoje devem ser guiadas pelas informações disponíveis sobre a necessidade de manutenção da Biodiversidade. Por isso, a pesquisadora está preocupada com a flexibilização de pontos do Código Florestal Brasileiro, que foram apresentadas no texto do relator Aldo Rebelo na semana passada. Segundo ela, o maior risco é deixar com que o olhar produtivo de determinados grupos se sobreponham aos interesses do país e até do mundo no que diz respeito à Biodiversidade: - Além de ser uma questão ambiental essencial, é também econômica. Precisamos entender o valor dos serviços ambientais, porque temos uma riqueza imensa que será cada vez mais valorizada. O Brasil abriga 20% das espécies do planeta e muitas dessas são endêmicas, ou seja, só ocorrem em determinada região. Se fecharmos os olhos para isso, corremos sérios riscos no futuro.

Ainda de acordo com Daniela, a autonomia dada aos estados para gerirem o código também é preocupante, pois a preservação precisa ter caráter nacional. A possibilidade de se criar fragmentos ou ilhas de Florestas também é um problema, já que é necessário ter trechos contínuos conservados: - É necessário ter o que chamamos de fluxos gênicos entre as espécies. A proteção da Biodiversidade é uma questão nacional seríssima.

 



Segundo especialista, assunto deve guiar legislação ambiental
Jornal O Globo, Razão Social - Meio Ambiente 15/06/2010