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Agricultura urbana: uma ação para o desenv. sustentável



Segundo dados do Fundo de População das Nações Unidas - UNFPA, publicados em 2011, 50% da população mundial humana habita atualmente áreas urbanas. O crescimento acelerado das cidades nas últimas décadas tem resultado em uma série de problemas tanto sociais quanto ambientais. 

Preocupados com essa realidade diversos setores governamentais e não governamentais,  regionais e locais têm buscado e incentivado o desenvolvimento e adoção de programas que garantam o desenvolvimento sustentável das cidades.

Como muitas outras cidades da Europa e América do Norte, Montréal tem, entre outros,  apostado na agricultura urbana como estratégia para minimizar alguns desses problemas.

De forma simples, a agricultura urbana pode ser definida como "cultivo do solo para a produção de alimento em áreas urbanas" (Van Veenhuizen, 2006). Porém, para compreender como essa prática tem contribuído para o desenvolvimento sustentável de Montréal é imprescindível conhecer um pouco sobre a história da agricultura urbana e de como esta atua nas dimensões social, econômica e ambiental da população montrealesa.  

Em Montréal, a agricultura urbana pode ser observada em diferentes partes da cidade, tanto nas áreas periurbanas quanto nas centrais. A agricultura na cidade engloba uma série diversificada de atividades que vão desde a produção de frutas, verduras e mel (apicultura urbana) até à criação de pequenos animais.

Essas atividades são comuns e podem ser observadas  em terraços, tetos de prédios, sacadas de apartamentos, terrenos privados e ruelas. Porém, é nos jardins comunitários ou coletivos que a produção de alimento encontra sua máxima expressão na cidade.

Os jardins comunitários de Montréal surgiram em 1970 por iniciativa pública para assegurar a alimentação de parte da população durante a crise do petróleo. No entanto, com o passar do tempo a prática de jardinar foi incorporada ao dia-a-dia dos cidadãos e passou também a ser vista como atividade de lazer pela grande maioria. Em 1989, a prefeitura de Montréal incluiu a criação e manutenção dos jardins em suas práticas de governo o que possibilitou a expansão e popularização dessas áreas por toda a cidade.  No entanto, devido aos problemas de contaminação do solo e pressões imobiliárias, no final da década de 90, Montréal experimentou uma drástica redução no número de seus jardins. Somente em 2002, depois de uma reorganização administrativa, os jardins voltaram a fazer parte do cotidiano da maioria dos moradores e da paisagem urbana.

Atualmente, Montréal possui 95 jardins comunitários em funcionamento, distribuídos em 26 ha e empregam cerca de 12 mil pessoas que trabalham de forma direta e/ou indireta no desenvolvimento deste projeto.

Os jardins comunitários são como grandes hortas em que cada morador, ou família, mediante o pagamento de uma taxa por ano, tem acesso à 18m2 de área para cultivo.  A administração do jardim é realizada por diferentes atores sociais, como organizações comunitárias, associações de moradores ou escolas que promovem cursos de capacitação em horticultura, monitoram práticas em grupo e auxiliam o desenvolvimento das atividades ligadas à produção e manutenção dos jardins.

Os benefícios desses projetos são numerosos e vão muito além da simples produção de alimento. De fato, a agricultura urbana contribui para o desenvolvimento sustentável da cidade, pois garante em âmbito econômico, uma diminuição nos gastos alimentares e asseguram uma alimentação saudável e diversificada às famílias; disponibiliza vagas de empregos e promove formações técnicas em gestão, horticultura e jardinagem que possibilitam a entrada e permanência de pessoas no mercado de trabalho.

No âmbito social, os jardins podem ser vistos como pontos de encontro, que possibilitam o contato entre vizinhos, o exercício da solidariedade, a criação de vínculos e do pensar coletivo através da realização e participação em atividades sócio-educativas. O ato de jardinar apresenta-se como uma ótima atividade física, principalmente para idosos. Os jardins também estimulam o consumo de frutas e verduras frescas e propiciam o contato do homem com a natureza.

Por não utilizar pesticidas nem aditivos químicos nos jardins, os benefícios da prática para o meio-ambiente são ainda mais marcantes. O cultivo de frutas e verduras segue critérios de produção orgânica e através de técnicas simples e caseiras oferecem produtos de qualidade à comunidade.

Além disso, os jardins apresentam-se como importantes áreas verdes em meio às extensões urbanas, atuam como ilhas de frescor e umidade, aumentam a área de solo capaz de absorver a água proveniente das chuvas e desempenham um importante papel na ciclagem de nutrientes do solo. Oferecem abrigo e alimento para a fauna e favorecem a manutenção da biodiversidade em um nível local, principalmente de polinizadores. Propicia o cultivo de variedades crioulas de diversas plantas através da troca de sementes entre os jardineiros e estimula o ato de reciclar e a prática de realizar compostagem. Como os produtos são consumidos pelos moradores do local, há também uma redução na emissão de poluentes na cidade, já que não há transporte desses produtos.

Por esses e outros motivos a agricultura urbana é considerada como uma alternativa  viável  na busca pela sustentabilidade em centros urbanos.

No Brasil, apesar da falta de interesse por parte do governo, a criação de hortas e pomares comunitários têm aumentado no decorrer dos anos como resultado do trabalho e persistência de organizações não governamentais (ONG). Nos estados de São Paulo e Santa Catarina destaca-se os projetos de hortas comunitárias desenvolvidos pela Organização "Cidades sem fome" e pelo "Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo" - Cepagro, que através de suas iniciativas propiciam à população o desfrute de todos os benefícios que resultam da prática da agricultura urbana.

 

Tiana Custodio

Mestranda em Ecologia e Conservação - UFMS

Realizou intercâmbio na Université de Montréal como bolsista do Programa "Student for Development" da "Canadian International Development Agency" (CIDA), sobre o tema "segurança alimentar e desenvolvimento sustentável".

 

 

 

Referências consultadas para a redação do texto:

 

Agriculture urbaine de Montréal. Disponível em: <http://agriculturemontreal.com/>. Acesso em: 25 jun 2013

 

CEPAGRO - Centro de de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo. Disponível em: <http://cepagroagroecologia.wordpress.com/>. Acesso em: 26 jun 2013.

 

Duchemin, E.; Wegmuller, F. & Legault, A. M., 2010. Agriculture urbaine : un outil multidimensionnel pour le développement des quartiers. Vertigo, vol. 10, n. 2. Disponível em: <http://vertigo.revues.org/10436>. Acesso em: 25 jun 2013.

 

Organização cidades sem fome. Disponível em: <http://cidadessemfome.org/pt/>. Acesso em: 26 jun 2013.

 

UNFPA - Fundo de População das Nações Unidas. Relatório sobre a Situação da População Mundial, 2011. Disponível em: < http://www.un.cv/files/PT-SWOP11-WEB.pdf>. Acesso em: 26 jun 2013.

 

Ville de Montréal. Agriculture urbaine. Disponível em: < http://ville.montreal.qc.ca/portal/page?_pageid=7017,111991580&_dad=portal&_schema=PORTAL>. Acesso em: 25 jun 2013.

 

Van Veenhuizen, R., 2006. Cities Farming for the Future. In: Cities Farming for the Future: Urban Agriculture for Green and Productive Cities. Editado por René van Veenhuizen, RUAF Foundation, IIRR e IDRC. Disponível em: < http://www.ruaf.org/node/961>. Acesso em: 25 jun 2013.

 

Wegmuller, F. & Duchemin, E., 2010. Multifonctionnalité de l’agriculture urbaine à Montréal : étude des discours au sein du programme des jardins communautaires. Vertigo, vol. 10, n. 2. Disponível em: <http://vertigo.revues.org/10445>. Acesso em: 25 jun 2013.

 

 
Slogan do projeto de Jardins Comunitários de Montréal

 

Jardim Comunitário Delorimier. Foto: François Delpatie Pelletier (jun 2013)

Área de cultivo do jardim Delorimier. Foto: François Delpatie Pelletier (jun 2013)

Tomateiro sendo cultivado em vasos em sacada de apartamento - Plateau-Montréal. Foto: François Delpatie Pelletier (jun 2013)

 

 

 

 

 



Segundo dados do Fundo de População das Nações Unidas - UNFPA, publicados em 2011, 50% da população mundial humana habita atualmente áreas urbanas. O crescimento acelerado das cidades nas últimas décadas tem resultado em uma série de problemas tanto sociais quanto ambientais.
Tiana Custodio