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Ibama apreende 342 aves silvestres em Guabiruba (SC)



O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) apreendeu, ontem, 342 pássaros silvestres de um criadouro em Guabiruba, Vale do Itajaí. Eles foram recolhidos como resultado da autuação do proprietário, em 18 de janeiro, por maus-tratos contra os animais.

De acordo com a bióloga e analista ambiental Edinéia Caldas Correia, do Ibama, no final de 2005 o Instituto e a Polícia Federal realizaram uma operação de combate ao tráfico de animais na Região Sul do país. Na época, foram encontrados indícios de que o proprietário do criadouro, Alcino Boos, estaria envolvido com a atividade.

Desde então, suas ações foram monitoradas. A suspeita era de que ele estaria vendendo pássaros que não eram originários do criadouro. Os estabelecimentos comerciais registrados e autorizados pelo Ibama, como é o caso do de Alcino, só podem comercializar animais que tenham nascido no local, resultados de cruzamento de espécimes legalmente adquiridos.

Em 18 de janeiro deste ano, fiscais do Ibama foram à propriedade fazer uma vistoria e detectaram situações que caracterizam maus-tratos contra os animais. Foram encontradas várias tocas de ratos e muita sujeira nos viveiros. Além disso, alguns pássaros eram mantidos em gaiolas, o que é proibido em criadouros.

- Tinha gaiolas uma em cima da outra, as fezes caíam nos pássaros - contou Edinéia.

No mesmo dia, também foi coletado sangue de araras-canindé (azuis) que eles suspeitaram não serem nascidas no criadouro. Segundo os registros, dois filhotes teriam nascido 20 dias antes, mas os fiscais acreditam que eles tenham no mínimo três meses.

Teste de DNA indicará se houve crime ambiental

O teste de DNA, que irá sair em cerca de um mês, irá confirmar se eles são mesmo filhos das aves indicadas. Caso contrário, ficará comprovado que elas foram adquiridas de traficantes e a posse é ilegal.

Desde 18 de janeiro, Alcino estava como fiel depositário dos pássaros. Ontem, o Ibama e a Polícia Militar Ambiental montaram uma operação para retirar as aves, que foram encaminhadas aos zoológicos de Pomerode, Camboriú e Salete e ao Centro de Triagem de Animais Silvestres da Polícia Ambiental, em Florianópolis. Ficarão com uma anilha de identificação, para o caso de o proprietário recuperar a posse.

Bióloga Edinéia Correia, do Ibama, examina aves apreendidas, que estavam confinadas em condições inadequadas.
Foto(s): Daniel Conzi/DC

Multa ultrapassa R$ 700 mil

Jandaias-verdadeiras
foram recolhidas
Foto(s): Daniel Conzi/DC
O som de 342 aves juntas protestando contra a sua remoção marcou a tarde no pequeno sítio do município de Guabiruba. Os fiscais do Ibama e da Polícia Ambiental levaram horas para conseguir retirar com puçás todos os espécimes de seus viveiros, colocá-los em gaiolas e encaminhá-los ao novo destino.

Alguns animais apresentavam sinais de que não viviam nas condições indicadas pelo Ibama.

- Não é comum a unha de uma arara ficar tão grande. O viveiro tem que ter um poleiro grosso para ela gastar a unha - explicou Márcio Burgonovo, fiscal do Ibama.

O proprietário, Alcino Boos, observava em silêncio a retirada dos animais, que criava com autorização do Ibama desde 1997.

- Sempre gostei de aves, e resolvi montar o criadouro.

Ele estima que tinha mais de 30 espécies de pássaros silvestres, entre as exóticas - ararinhas-da-patagônia e ring neck -, as em extinção, como o papagaio do peito roxo, e as mais conhecidas, como o papagaio e as araras azul e vermelha. O valor de venda de cada ave varia entre R$ 100 e R$ 3 mil.

- Nunca tinha sido autuado. O prejuízo é incalculável - lamentou.

Ele contou que, após a autuação do Ibama, entrou com uma ação para tentar evitar que os pássaros fossem retirados. Como não conseguiu, entrará com novo processo. Alcino afirmou que todos os animais foram adquiridos legalmente.

- As matrizes vieram de zoológicos e outros criadouros, e os filhotes são daqui - afirmou.

A multa em função dos maus-tratos foi de R$ 703,9 mil. O valor é calculado com base no número de espécimes apreendidas. Alcino irá responder a um processo administrativo do Ibama e outro, penal, da Polícia Federal. A pena por maus-tratos prevê detenção de três meses a um ano.



Diário Catarinense - 01/02/2007