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Relatório cita o homem como causador do aquecimento global



Andrew C. Revkin

O mais recente levantamento da ONU sobre o papel dos seres no aquecimento global apontou com "alta confiança" que as emissões de gases do efeito estufa são pelo menos em parte responsáveis por uma série de mudanças já em andamento, incluindo estações de cultivo mais longas e diminuição das geleiras.

Um sumário do esboço de trabalho do relatório, que será divulgado na sexta-feira (6/4) em Bruxelas, Bélgica, foi fornecido na quarta-feira ao "The New York Times" por várias pessoas envolvidas em sua revisão. Ele é uma continuação detalhada do relatório de fevereiro do grupo da ONU, o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, que foi o quarto levantamento desde 1990 da ciência básica que aponta para uma mão humana no termostato do planeta.

Aquele relatório disse que há pelo menos 90% de chance de que grande parte do aquecimento desde 1950 foi resultado do acúmulo contínuo na atmosfera de gases responsáveis pelo efeito estufa. O novo relatório descreve os efeitos específicos das mudanças climáticas sobre as pessoas e a ecologia; identifica as espécies e regiões que correm maior perigo e descreve as opções para limitar os riscos.

Algumas das mudanças poderiam ser benéficas, mas a maioria se mostrará prejudicial em longo prazo, diz o relatório. Ele conclui que o aquecimento global provocado pelos seres humanos quase certamente contribuiu para as recentes mudanças nos ecossistemas, padrões climáticos, oceanos e regiões geladas, e que terá efeitos grandes e duradouros sobre os assuntos humanos e na teia de vida do planeta neste século.

O esboço do relatório também prevê uma variedade de efeitos sobre a saúde, com o "aumento do número de mortes, doenças e ferimentos causados por ondas de calor, inundações, tempestades, incêndios e secas", mas também "alguns benefícios à saúde como menos mortes causadas pelo frio".

Também na coluna favorável, maiores concentrações de dióxido de carbono, o principal gás responsável pelo efeito estufa, estão contribuindo para um mundo mais verde, segundo o esboço. "Com base nas observações por satélite desde o início dos anos 80, há uma alta confiança de que há uma tendência em muitas regiões de um verdejar antecipado da vegetação na primavera e um aumento da produção associados às mais longas estações de cultivo e ao aumento das concentrações de CO2 na atmosfera", diz ele.

Mas o aquecimento em regiões mais frias pode trazer resultados ambíguos, diz o esboço. Por exemplo, apesar da temperatura em latitudes mais altas poder ser melhor para a agricultura, ela também estimula mais ervas daninhas, pragas de insetos e incêndios florestais que provavelmente colocarão florestas em perigo.

Os detalhes finais do sumário estão sendo discutidos por centenas de autores e representantes de governo de mais de 100 países reunidos nesta semana em Bruxelas e por consultas por e-mail.

Os cientistas e representantes de governo lutavam em torno da linguagem do esboço na quarta-feira, segundo algumas pessoas envolvidas, com desacordos sobre o nível de certeza nas projeções das conseqüências do aquecimento para a ecologia e saúde.

Mas no geral, o relatório deverá fornecer novos detalhes significativos sobre um mundo cada vez mais influenciado pelas ações humanas, mais notadamente o acúmulo de dióxido de carbono e outros gases do efeito estufa emitidos principalmente pela queima de combustíveis fósseis e florestas.

A longo prazo, a maioria das regiões provavelmente será mais prejudicada do que auxiliada pelas mudanças, diz o esboço. Por exemplo, as projeções para as próximas décadas prevêem a intensificação de secas e chuvas, assim como uma constante intrusão causada pela elevação dos mares - em uma taxa incerta - ao longo de costas habitadas e ao redor de ilhas com altitudes próximas do nível do mar.

Os reservatórios de água alimentados pelas neves alpinas ou camadas de gelo já estão experimentando mudanças e poderão sofrer sérias perturbações, ele diz.

Entre outras conclusões, o esboço diz:

  • "As regiões costeiras provavelmente estarão expostas a riscos cada vez maiores devido à mudança climática e à elevação do nível dos mares, e o efeito será exacerbado pelas crescentes pressões induzidas pelos seres humanos nas áreas costeiras."

  • "É provável que os corais sofrerão um grande declínio devido ao aumento da descoloração e mortalidade causadas pela elevação das temperaturas dos mares."

  • Muitas das regiões do mundo que já são vulneráveis a riscos climáticos e costeiros provavelmente verão os maiores efeitos das mudanças adicionais causadas pelo acúmulo dos gases do efeito estufa. "As comunidades pobres poderão ser particularmente vulneráveis", ele diz, "porque tendem a se concentrar em áreas de relativo alto risco, dispõem de menos capacidade para lidar com o problema e podem ser mais dependentes de recursos sensíveis ao clima como as reservas locais de água e alimentos".

    As ameaças existentes e previstas para estas regiões são uma justificativa para um esforço mais intenso por parte de grupos de desenvolvimento, países ricos e governo de países pobres para aumentar as defesas em regiões que correm maior risco, disseram as autoridades.

    Achim Steiner, um subsecretário-geral da ONU que é diretor executivo do Programa Ambiental das Nações Unidas, não quis comentar diretamente sobre as conclusões do esboço do painel climático. Mas ele disse, por e-mail, que projetos de desenvolvimento em países em dificuldades do mundo precisarão levar os riscos climáticos em consideração.

    "Trilhões de dólares serão investidos em infra-estrutura apenas em países em desenvolvimento ao longo dos próximos anos", disse ele. "O desafio é assegurar que os impactos da mudança climática serão levados em consideração desde o início nas decisões de investimento, para que, por exemplo, uma estrada, ferrovia ou usina de força, seja planejada tendo a mudança climática em mente."


  • The New York Times