Você ainda vai ouvir falar de carbon free

Publicado em: 09/04/2007 às 08:50

Se você ainda não ouviu falar em carbon free (neutro em carbono), prepare-se. Um movimento ambiental que começou na Inglaterra há 11 anos e ganhou adeptos no centro do país nos últimos dois anos, agora ganha força na Região Sul. Preocupados com os efeitos do aquecimento global no planeta, artistas, empresários e até gente comum estão fazendo uma conta nova: quantas árvores é preciso plantar para compensar as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera.

Foi assim em janeiro com a Semana de Moda de São Paulo, quando 4.290 árvores de mais de 80 espécies nativas foram plantadas em uma área degradada da Mata Atlântica para neutralizar as emissões de gás carbônico do evento e de atividades relacionadas a ele.

E vai ser assim a partir da próxima quarta-feira, quando se inicia, em Porto Alegre, a sétima edição do Donna Fashion Iguatemi (veja na página ao lado), com a promessa de plantar 346 árvores para equilibrar o impacto do evento na natureza.

E não é só a moda que se rendeu à onda verde. A banda O Rappa plantou 37 mudas para equalizar o prejuízo ecológico de um show, e a Volkswagen lançou, com toda a pompa, o novo Golf com a intenção de promover o plantio de 740 mudas em uma área degradada de Sumaré, no interior de São Paulo, na primeira semana de outubro.

- Esse movimento começou a ficar forte no Brasil depois que o país passou a sentir os efeitos do aquecimento global, como aquele furacão aí, o Catarina (que passou pelos litorais catariense e gaúcho em março de 2004) - conta David Dieguez, diretor administrativo da Iniciativa Verde, uma organização da sociedade civil de interesse público que criou o selo carbon free, um certificado responsável por atestar que uma determinada atividade plantou árvores para neutralizar o impacto de suas emissões.

Desde 2005, quando foi criada, até outubro de 2006, a Iniciativa Verde plantou 15.131 árvores, quantidade suficiente para cobrir cerca de 18 campos de futebol, calcula Dieguez. Do total de recursos, 90% vai para o plantio e o monitoramento da área e 10% para a manutenção da organização. Já existem pelo menos outras duas empresas no país de olho nas possibilidades da neutralização das emissões de gás carbônico.

Cidadão tem de plantar 17 árvores para compensar dano

Mas o fenômeno ambiental não se restringe apenas a grandes empreendimentos. Ser carbon free é um estilo de vida. Segundo cálculos da Iniciativa Verde, um cidadão de classe média, numa grande cidade brasileira, provoca, no seu dia-a-dia, a emissão anual de 2,08 toneladas de gás carbônico na atmosfera.

Traduzindo: esse cidadão precisa plantar 14 árvores para que, num prazo de 37 anos, esse prejuízo seja compensado.

No entanto, segundo Dieguez, a missão da Iniciativa Verde é muito maior do que simplesmente plantar árvores para mitigar o efeito estufa. É preciso reduzir o impacto agora.

É o que pensa também Lúcia Ortiz, presidente da ONG Núcleo Amigos da Terra Brasil. Segundo Lúcia, pequenas atitudes individuais, como trocar o carro pela bicicleta ou pelo ônibus, podem reduzir a emissão de gases de efeito estufa no ar e diminuir a dor na consciência.

A prevenção também passa por uma mudança de hábito muito mais difícil, diz Hélio Mattar, diretor do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente:

- O cidadão precisa consumir menos. E isso esbarra em toda uma questão cultural. Em todos os processos de produção de bens da nossa sociedade há uso intensivo de água e de energia elétrica, que contribuem para a emissão de gases de efeito estufa. É preciso consumir de forma consciente. E uma forma de fazer isso é selecionar empresas engajadas - afirma Mattar.

Essa preocupação destacada por Mattar, assim como o carbon free, já gerou dezenas de movimentos mundo afora. Um deles, no Brasil, chamado Simplicidade Voluntária, prega o abandono do luxo por uma vida menos consumista. Resta saber quem vai se oferecer para levá-los para frente.

( tatiana.cruz@zerohora.com.br  )

Na onda verde

Ele tem um carro, mas anda a pé. Já deixou de comprar roupa por um período de quatro meses. E construiu uma casa em Imbituba com madeira reutilizada de outras construções. O fotógrafo gaúcho Adriano Becker, 32 anos, conta, orgulhoso: - Para construir a casa, não se destruiu um arbusto sequer. Associado a uma ONG, para a qual oferece de vez em quando seu talento como fotógrafo gratuitamente, Becker também tem uma outra preocupação. Aquilo que ele não consegue reduzir em emissões nocivas na atmosfera, tenta neutralizar com uma paixão: o plantio de árvores. - Já plantei umas 50 árvores no meu terreno em Imbituba. Toda vez que pego o carro e vou pegar onda no Litoral catarinense, sinto-me um pouco culpado e me preocupo em compensar - conta o fotógrafo, que adquiriu o local em 2001. São mais de 30 espécies - entre figueiras, pitangueiras e jerivás. Mudas adquiridas no viveiro do Jardim Botânico de Porto Alegre ou com amigos. Dessa forma, a área devastada por antigos moradores começa a ganhar vida. Não satisfeito, Adriano agora está começando um quintal agroflorestal na casa de Imbituba. Num mesmo espaço, serão plantadas a vegetação nativa, cuja regeneração estará garantida, e culturas agrícolas.

Moda com consciência ambiental

Seguindo os passos de alguns do maiores eventos de entretenimento do mundo, o Donna Fashion Iguatemi será o primeiro no Rio Grande do Sul a receber o selo Carbon Free.

Aprimeira edição Outono/Inverno do maior evento de moda gaúcho - promovido por Zero Hora e Shopping Iguatemi - começa na quarta-feira, marcada pela preocupação com o ambiente.

Para se chegar ao número de árvores equivalente ao volume de gases gerado no evento, a produção teve de responder a um minucioso questionário, que envolvia previsões de volume de água utilizado, energia elétrica e mais uma série de itens que fazem parte do cotidiano de um grande acontecimento. Dessa previsão, resultou a quantidade de 346 árvores a serem plantadas. Mas a neutralização não está restrita aos grandes empreendimentos.

O Iguatemi quer provar, durante o Donna Fashion, que amenizar o efeito estufa é possível para qualquer indivíduo - tudo isso sem perder o charme.

A empresa gaúcha Mazah Live Marketing criou uma coleção de camisetas em tecido ecologicamente correto. Durante os cinco dias do evento, os visitantes poderão adquirir as peças. Cada camiseta vendida garantirá o plantio de quatro árvores, neutralizando as emissões anuais de gases do efeito estufa de um gaúcho médio, além das emissões decorrentes da produção da peça.