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Sumiço de abelhas preocupa apicultores brasileiros



Mônica Pinto / AmbienteBrasil

Recentemente, duas notícias, vindas de dois países diferentes, deixaram a comunidade apícola preocupada.

Nos Estados Unidos, o misterioso desaparecimento de milhões de abelhas chegou até ao Congresso norte-americano, que debateu a situação do inseto, tido como essencial para o setor agrícola.

Conforme registrou a Agência EFE, o mais curioso no fenômeno é que, em muitos casos, não são encontrados "restos mortais" das abelhas. “Historicamente, quando algo afeta os enxames, há muitos insetos mortos", afirmou à Agência May Berenbaum, professora de entomologia da Universidade de Illinois. Outro mistério é que as abelhas operárias fogem deixando para trás a rainha, um comportamento totalmente atípico na espécie.

Ainda segundo a EFE, os primeiros sinais desse problema surgiram pouco depois do Natal, na Flórida, quando os apicultores perceberam que muitas abelhas haviam desaparecido. Desde então, a síndrome que os especialistas batizaram como Problema do Colapso das Colônias (CCD) reduziu em 25% os enxames do país.

"Perdemos mais de meio milhão de colônias, com uma população de cerca de 50 mil abelhas", disse Daniel Weaver, presidente da Federação de Apicultores dos Estados Unidos. Segundo ele, o problema atinge 30 dos 50 estados americanos.

Em outro continente, a revista Der Spiegel, uma das melhores conceituadas na Alemanha, publicou uma reportagem com o sugestivo título de Colapso das colônias - Será que plantações de transgênicos estão matando as abelhas?. E traz como chamada o seguinte texto: “Uma dizimação misteriosa das populações de abelhas preocupa os apicultores alemães, enquanto um fenômeno semelhante nos EUA está assumindo gradualmente proporções catastróficas”

A reportagem alemã ouviu o vice-presidente da Associação Européia de Apicultores Profissionais e membro do conselho diretor da Associação Alemã de Apicultores, Walter Haefeker, que fez uma advertência grave: "a própria existência da apicultura está em risco".

O problema, disse Haefeker, tem várias causas, uma delas o ácaro Varroa, oriundo da Ásia; e outra, a prática disseminada na agricultura de borrifar as flores silvestres com herbicidas e promover a monocultura. Outra possível causa, segundo Haefeker, é o uso crescente e controverso de engenharia genética na agricultura.

A Der Spiegel parece desdenhar o tom alarmista do entrevistado, lembrando que, em 2005, ele já encerrara um artigo de sua autoria para o jornal "Der Kritischer Agrarbericht" (Relatório Agrícola Crítico) com uma citação de Albert Einstein: "Se a abelha desaparecer da superfície do planeta, então ao homem restariam apenas quatro anos de vida. Com o fim das abelhas, acaba a polinização, acabam as plantas, acabam os animais, acaba o homem".

Mas a revista emenda que “eventos misteriosos nos últimos meses repentinamente fizeram a visão apocalíptica de Einstein parecer mais relevante”. E relata: “Por motivos desconhecidos, as populações de abelhas por toda a Alemanha estão desaparecendo - algo que até o momento está prejudicando apenas os apicultores. Mas a situação é diferente nos Estados Unidos, onde as abelhas estão morrendo em números tão dramáticos que as conseqüências econômicas poderão em breve ser calamitosas. Ninguém sabe o que está causando a morte das abelhas, mas alguns especialistas acreditam que o uso em grande escala de plantas geneticamente modificadas nos Estados Unidos poderia ser um fator”.

Walter Haefeker, o diretor da associação alemã de apicultura, especula que "além de vários outros fatores", o fato de plantas geneticamente modificadas, resistentes a insetos, atualmente serem usadas em 40% das plantações de milho americanas pode ter um papel. O número é muito menor na Alemanha - apenas 0,06% - e a maioria se encontra nos Estados do leste, de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental e Brandemburgo.

A Der Spiegel informa ainda que, num artigo em sua seção de negócios no final de fevereiro, o New York Times calculou os prejuízos que a agricultura americana sofreria em caso de dizimação das abelhas. Especialistas da Universidade de Cornell, no interior de Nova York, estimaram o valor que as abelhas geram - polinizando plantas responsáveis por frutas e legumes, amendoeiras e trevos que alimentam animais - em mais de US$ 14 bilhões.

No Brasil – Em uma reunião realizada na sexta-feira 30, 36 apicultores afiliados à Cooperativa Nacional de Apicultura – Conap -, debateram o sumiço das abelhas nos EUA e na Alemanha, assunto tido por eles como “de extrema relevância”.

A entidade, com sede em Minas Gerais, foi fundada há 16 anos e reúne hoje cerca de 300 cooperados, de cinco estados.

Ao fim do encontro, eles admitiram a hipótese dos transgênicos terem relação com o fenômeno. “Pela modificação genética que a planta sofre, pode estar produzindo pólen com algum tipo de alteração, possivelmente tóxico ou produzir um fungo que pode estar matando as abelhas, principalmente se não existirem matas nativas nas regiões onde ocorreram os problemas”, disse a AmbienteBrasil Clélio Vidigal, presidente da Conap.

“O ambiente não se encontra mais preservado, existem monoculturas nas quais são utilizados herbicidas, pesticidas e até hormônios de crescimento ou retardamento e adiantamento de maturação (na fruticultura). As abelhas são super-sensíveis - principalmente se não africanizadas, já que estas são rústicas e resistentes -, há vários doenças aqui no Brasil”, explica.


Ambiente Brasil