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Moeda Verde: Polícia diz que vereador é o líder



A Polícia Federal começou a revelar sexta-feira detalhes dos depoimentos dos presos na Operação Moeda Verde que fortalecem os indícios de compra e venda de licenças para construções em áreas de preservação ambiental em Florianópolis. O vereador Juarez Silveira, 48 anos (sem partido), é apontado por policiais como chefe do grupo.

- Ele é o principal responsável pela troca de favorecimentos. A mão dele passava em vários órgãos públicos - afirmou a delegada Julia Vergara, coordenadora das investigações.

O depoimento mais forte até agora trata do reconhecimento da existência do pagamento de R$ 20 mil a um servidor público municipal para a compra da licença de ocupação (habite-se) do recém inaugurado Shopping Iguatemi, na Capital. A arquiteta do shopping, Margarida Emília Milani de Quadros, que foi presa quinta-feira e liberada no mesmo dia, teria admitido à polícia essa transação. Todos os 17 presos na ação de quinta-feira já foram ouvidos.

Na noite de sexta-feira, mais quatro presos ganharam a liberdade: Fernando Marcondes de Mattos, Gilson Junckes, Amilcar da Silveira e Paulo Toniolo Júnior. O juiz da Vara Federal Ambiental de Florianópolis, Zenildo Bodnar, disse que a prisão não era mais necessária para a obtenção de provas. O empresário Aurélio Paladini, da Construtora Magno Martins, seria beneficiado com a decisão do magistrado. Porém, ficou preso porque, ao ser abordado, portava ilegalmente uma arma.

Até o fechamento desta edição, 11 pessoas permaneciam presos na Superintendência da PF. O médico Sérgio Lima de Almeida, da SOS Cardio, que também teve prisão decretada, se apresentou às 20h. Outros dois acusados de envolvimento no esquema e que tiveram prisão temporária decretada ainda não tinham se apresentado: o empresário Paulo Cezar Maciel da Silva, um dos donos do Shopping Iguatemi, e o presidente da Santur e vereador eleito, Marcílio Guilherme Ávila.

No meio da tarde de sexta-feira, cinco foram transferidos para o Presídio Masculino de Florianópolis. A delegada Júlia relatou que o motivo da transferência foi a lotação da carceragem da PF. As cinco celas existentes têm capacidade para 20 detentos e abrigavam ontem 27.

Governador não vai exonerar funcionários

O governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) afirmou sexta-feira que não pretende exonerar nem julgar os funcionários públicos suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção denunciado pela Polícia Federal à Justiça durante a Operação Moeda Verde.

A assessoria do governador informou que Luiz Henrique não determinou nenhuma demissão, mas solicitou que a Procuradoria do Estado busque mais informações sobre o caso na Justiça Federal. O governador também teria pedido à direção da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fatma) para que fosse facilitado o acesso da Polícia Federal a toda documentação necessária para a investigação.

Um dos envolvidos, o presidente da Santur, Marcílio Ávilia (PMDB), está na Argentina. Segundo a assessoria de imprensa, ele teria colocado o cargo à disposição de LHS, que não aceitou a demissão.

Na prefeitura, suspeitos foram afastados e outros já nomeados

O radialista e policial civil Roberto Salum, 50 anos, foi confirmado pelo prefeito Dário Berger para ocupar o cargo de secretário municipal de Urbanismo e Serviços Públicos (Susp), em substituição a Renato Juceli de Souza, que até sexta-feira à noite permanecia preso no Presídio Masculino de Florianópolis. Souza é um dos investigados na Operação Moeda Verde.

Na Secretaria de Obras, que também teve o titular Aurélio de Castro Remor afastado, assume Carlos Schwabe. O prefeito não se manifestou sobre quem ficará na Fundação Municipal do Meio Ambiente (Floram). O superintendente Francisco Rzatki, suspeito de conceder licenças ambientais irregulares, também foi afastado.

O novo secretário disse que vai ser montada uma comissão para levantar a situação de todas as licenças ambientais que estão em tramitação e com prazo para sair nos próximos dias. Prometeu que não deixará que o tráfico de influência continue dentro da secretaria. Salum informou ainda que pretende dar maior proteção aos fiscais, o que deve ocorrer com a presença de policiais civis.

"Há elementos que ligam uns investigados aos outros"
Entrevista: Julia Vergara, delegada responsável pela Operação Moeda Verde

A delegada Julia Vergara, responsável pela Operação Moeda Verde, explicou sexta-feira à Agência RBS que a denúncia inicial era de concessão de licença ambiental indevida para a construção do Loteamento II Campanario, em Jurerê Internacional. As investigações levaram ao secretário da Secretaria de Urbanismo e Serviços Públicos (Susp), Renato Juceli de Souza, e ao cunhado dele, o vereador Juarez Silveira. Na seqüência, apareceram empresários e técnicos de órgãos ambientais do Estado e do município. Em nove meses, foram interceptadas 150 mil ligações.

Agência RBS - A Habitasul atuava junto com o vereador Juarez Silveira?

Julia Vergara - Tudo passava pelo Juarez, configurando um tipo de organização. Um em cada ponta. Essa ponta, às vezes, era ocupada por outros empreendedores.

Agência RBS - O Juarez procurava o grupo Habitasul?

Julia - Ele ligava pedindo "me dá a linha" (pedindo orientações). O Hélio Scheffel (representante do grupo em Santa Catarina) executava, marcava reuniões.

Agência RBS - O que foi confirmado nos depoimentos de sexta-feira?

Julia - Muita coisa tem sido confirmada, e, por parte dos empresários, como se fossem coisas normais. Para algumas situações mais sensíveis, como pagamentos, usaram de evasivas. Mas, de resto, suspeitas de influência vêm sendo caracterizadas. Eles falam: "Realmente dei uma ajuda nas eleições porque ele é um cara forte e podia me favorecer".

Agência RBS - O que já foi encontrado no material apreendido?

Julia - Há elementos que ligam uns investigados aos outros. Questão patrimonial, no caso do Juarez. Muitos recibos são comprovantes de depósitos em valores de R$ 70 mil. Acho que até de R$ 100 mil.

Agência RBS - O cunhado de Juarez Silveira, Renato Juceli de Souza, está envolvido?

Julia - Ele expede o alvará de construção. O Juarez pedia para ele receber as pessoas. Dizia para aprovar a licença para ele. No momento em que forem disponibilizados os áudios, não precisarei falar mais nada. O Renato foi colocado na Susp pelo Juarez para que os dois dominassem a concessão de licenças.

Agência RBS - O que existe contra o presidente da Santur, Marcílio Ávila?

Julia - Toda a atuação no (Shopping) Floripa. Se não fosse ele, o (Carlos) Amastha (dono do shopping) não conseguiria. O Marcílio mudou o Plano Diretor sem fazer estudo de impacto.

Agência RBS - E nos autos existe algo contra o Fernando Marcondes de Mattos?

Julia - Ele tem uma empresa, a Inplac, e através dela financiou campanha do (André Luiz) Dadam. Mas não ficou só naquilo. Tudo indica que teve caixa 2. A gente pediu processo de licenciamento para ser analisado. Uma situação é tão esdrúxula, a de uma autorização da Floram, que saiu com uma data e o parecer, dois ou três dias depois. Uma situação ridícula, fazem com escárnio.

Agência RBS - Em depoimento, a arquiteta Margarida Emília Milani de Quadros disse que o sócio do Shopping Iguatemi Paulo Cezar Maciel da Silva, pagou R$ 20 mil a um funcionário da Susp?

Julia - Ela assumiu. E existem fortes indícios que o Paulo Cezar deu um carro para o vereador Juarez Silveira. Tem também áudio muito comprometedor. As análises do material apreendido serão bem produtivas.

Ambientalistas se manifestam em frente à Polícia Federal

Ambientalistas durante protestos
Foto(s): Hermínio Nunes/Santa
Em frente à superintendência da Polícia Federal, um grupo de integrantes de entidades ambientais se manifestou a favor das prisões. No hall de entrada do prédio, os advogados da família Bazzo preferiram não comentar a transferência de pai e filho, ambos servidores da Secretaria de Urbanismo e Serviços Públicos (Susp). Alegaram não terem acesso ao processo dos clientes. Mas um deles, Gabriel Henrique da Silva, disse não ter dúvidas de que seria melhor mantê-los ali:

- Essas celas, mesmo com a falta de vagas que obriga alguns a dormirem no chão, podem ser consideradas um quarto-pousada, na comparação com as do presídio.




Jornal de Santa Catarina