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Moeda Verde: Inquérito ganha força com quebra de sigilos



Completados sete dias, a Polícia Federal começa uma nova fase na Operação Moeda Verde, com a abertura de um inquérito para investigar a comercialização de licenças ambientais em Florianópolis. Como as investigações, de acordo com a assessoria de imprensa da PF, teriam apontado indícios de participação de todos os 22 suspeitos, nenhum deles foi excluído. Também não está descartada a possibilidade de outras pessoas serem chamadas para prestar depoimento ou mesmo terem prisão decretada pela Justiça.

O prazo para conclusão do inquérito é de um mês, mas pode haver prorrogação, se necessário, disse ontem a delegada responsável pelo caso, Julia Vergara.

Também foram quebrados os sigilos bancário e fiscal de seis suspeitos: o vereador Juarez Silveira; o ex-secretário da Secretaria de Urbanismo e Serviços Públicos (Susp), Renato Juceli de Souza; o presidente da Santur, Marcílio Ávila; o ex-servidor da Fundação do Meio Ambiente (Fatma), André Luiz Dadam; o servidor afastado da Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (Floram), Marcelo Nascimento; e o superintendente da Floram, Francisco Rzatki.

No despacho, o juiz Zenildo Bodnar escreveu que a medida pretende verificar o patrimônio dos suspeitos e descobrir se houve alguma transação financeira entre eles. O documento ressaltou que o êxito das investigações depende da quebra dos sigilos fiscal e bancário. A assessoria de imprensa da Vara Federal Ambiental informou que em casos que envolvem denúncias de corrupção esse procedimento é normal.

O construtor do Floripa Shopping, Carlos Amastha, esteve ontem com o chefe da Delegacia de Crimes Ambientais, Raimundo Barbosa. O empresário entregou uma caixa de documentos e disse que funcionários de órgãos ambientais pediram propina para permitirem a construção do empreendimento. Amastha não quis citar nomes. Ele afirmou que foi chantageado por agentes públicos que defendiam interesses de outros, mas disse que alguns foram presos pela Operação Moeda Verde.

O empresário afirmou que os órgãos de administração de Florianópolis estão "absolutamente falidos".

- Se não conhecer ninguém seu processo não vai para a frente - acusou.

Sobre sua relação com o vereador Marcílio Ávila, disse que ele é seu amigo, mas que não recebeu ajuda para conseguir autorizações para construir o Floripa Shopping. Amastha afirmou que foi depor voluntariamente depois que leu no DC de sábado declaração da delegada Julia Vergara sobre suposto favorecimento para construção do Floripa Shopping.

Amastha compareceu três vezes na sede da Polícia Federal. No domingo, falou com a delegada Julia Vergara, e ontem, por duas vezes, com Raimundo Barbosa.

A semana que abalou a Capital
Quinta-feira, dia 3
> A Polícia Federal deflagra a operação e prende 19 pessoas suspeitas de envolvimento na comercialização de licenças ambientais. Ao todo, eram 22 mandados de prisão, mas naquele dia não se apresentaram Marcílio Ávila, Sérgio de Almeida e Paulo Cezar Maciel da Silva.
> Foram liberados Aurélio Remor, Percy Haensch e Margarida Quadros.
Sexta-feira, dia 4
> Cinco dos detidos no dia anterior são transferidos para o Presídio Masculino de Florianópolis.
> O médico Sérgio de Almeida se apresenta e é liberado após ser ouvido pela polícia. Há a liberação de Fernando Marcondes de Mattos, Paulo Toniolo Júnior, Amilcar da Silveira e Gilson Junckes.
Sábado, dia 5
> Cerca de 200 pessoas manifestam apoio à operação na frente da Superintendência da PF. São liberados Aurélio Paladini, Rodrigo Bazzo, Hélio Chevarria, Péricles de Freitas Druck, Fernando Soledade, Itanoir Cláudio, Marcelo Vieira, Francisco Rzatki.
> Paulo Cezar da Silva se apresenta e é liberado depois de prestar depoimento. Dois suspeitos que estavam no presídio voltam para a carceragem da PF.
Domingo, dia 6
> O empresário Carlos Amastha, construtor do Floripa Shopping, depõe na PF.
Segunda-feira, dia 7
> Decretada prisão preventiva de Marcílio Ávila, Juarez Silveira, Renato de Souza, André Luiz Dadam e Rubens Bazzo.
Terça-feira, dia 8
> Marcílio Ávila se apresenta, depõe e é liberado. Em reunião com o governador, fica decidida sua permanência na Santur.
Quarta-feira, dia 9
> Quebrado o sigilo bancário de seis suspeitos. O empresário Carlos Amastha volta à PF e diz que recebeu pedido de propina para ter a licença ambiental para construção do Floripa Shopping, mas não quis citar nomes.
> O presidente da Câmara Municipal, Ptolomeu Bittencourt Júnior, recebe pedido formal para instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vai investigar eventual envolvimento de parlamentares nas autorizações irregulares de licenças ambientais. Ontem foram colhidas as seis assinaturas necessárias para a instalação.
> A Comissão, o Conselho de Ética e Decoro instalou processo administrativo para apurar os fatos.

Presos recebem familiares

Familiares de quatro suspeitos que permanecem detidos foram ontem até a Superintendência da PF, na Capital, para levar alimentos, roupas de Inverno, artigos de higiene e cobertores.

Somente a mulher do vereador Juarez Silveira aceitou conversar com a imprensa, mas preferiu não ser identificada. Ela saiu do local chorando e disse que está assustada. No entanto, afirmou que confia na inocência do marido.

De acordo com a mulher, Juarez Silveira está muito abalado e emocionado. Ele teria pedido para cuidarem da mãe dele, bastante idosa, e estaria preocupado com a própria saúde. Ao final do encontro, mandou uma abraço para toda a família. O vereador recebeu uma televisão de 14 polegadas.

O dia de visitas na PF é diferente das cadeias públicas. Não existe contato entre os presos e os familiares porque eles ficam separados por um parlartório e se comunicam por um telefone pendurado na parede, que de acordo com os usuários, é de péssima qualidade.

Cada pessoa pode receber no máximo dois parentes, que entram juntos e permanecem no local por uma hora em média.



Diário Catarinense