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WWF critica transposições de rios



O Fundo Mundial para a Natureza (WWF) reivindicou na terça-feira (26) que as transposições de rios sejam a última opção para diminuir a escassez de água em uma região, já que incitam um consumo irresponsável, frente à falsa sensação de abundância.

"Aumentar a disponibilidade de água com uma transposição pode induzir a um consumo insustentável na região receptora", informa a organização em um relatório publicado hoje em Genebra e em que cita como exemplo o caso da transposição dos rios Tejo-Segura, na Espanha.

Inicialmente, o projeto serviria para irrigar 50 mil hectares e, agora, irrigam 88 mil, aponta o WWF.

Além disso, a expectativa é que a demanda por água aumente no litoral da comunidade espanhola de Múrcia, onde nos próximos oito anos devem ser construídos 50 campos de golfe e 114.850 novos apartamentos.

"A transposição multiplicou o déficit de água inicial que supostamente deveria ser resolvido" porque, segundo a organização ambientalista, "fomenta o crescimento incontrolado das áreas de irrigação e o desenvolvimento urbanístico no litoral".

O estudo "Ilusões? Transposições e escassez de água", divulgado em Genebra, aborda o impacto negativo das transposições no meio ambiente, "cada vez mais populares", já que interrompem os fluxos naturais entre os rios e comprometem sua capacidade de proporcionar alimentos e água.

Os autores do relatório também pesquisaram transposições efetuadas na Austrália e África do Sul, além de projetos no Brasil, na China, na Grécia e no Peru, embora "existam centenas a mais, dos quais alguns não foram divulgados por sua natureza controversa", informa o WWF.

"Uma excessiva ênfase em construir infra-estruturas para tentar lidar com a crescente necessidade de água é uma forma artificial de solucionar a crise gerada pela escassez de água", afirmou o diretor do Programa Mundial para a Água Doce do WWF, Jamie Pittock.

Além disso, disse que as transposições causam "danos irreparáveis nos rios", como no Tejo, onde a poluição aumentou, e no Júcar, onde a reprodução da loina, um peixe característico da bacia espanhola, está afetada.

O WWF informa que quase todos os planos apresentam os mesmos defeitos, como custos excessivos, falta de integração entre as partes envolvidas, transparência insuficiente e pouco estudo de alternativas sustentáveis.

Alguns projetos levam à migração das comunidades que habitam as regiões afetadas, como ocorrerá no Peru, onde a transposição do rio Olmos obrigará os 200 habitantes do município de Pedregal a abandonar suas casas, segundo a organização.

A "excessiva ênfase" na construção de infra-estruturas para garantir o abastecimento de água fez com que, atualmente, somente 40% dos rios de todo o mundo flua livremente, lamenta o WWF, que afirma que "esse fato, junto à crise da água, não é uma mera coincidência".

Para a organização ambientalista, as soluções para a escassez devem se basear na conservação dos terrenos úmidos, além de uma avaliação e uma gestão apropriadas das necessidades de água e de sua reciclagem.

"As transposições devem ser o último recurso após explorar todas as opções sustentáveis", destaca Pittock, porque "em muitos casos, os projetos de transposição são sonhos impossíveis que refletem a idéia simplista de que transferir água de um rio para outro solucionará o problema sem criar outros".


Globo Online