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Declínio global de anfíbios



Artigo que sai na Science nesta sexta-feira mostra que um padrão comum de desmatamento na Mata Atlântica é uma séria ameaça para animais que dependem da água para se reproduzir

A maioria das espécies de anfíbios tem girinos que vivem em corpos d´água, enquanto suas formas adultas (sapos, rãs, pererecas) vivem nas florestas. Quando o desmatamento separa os corpos d´água das florestas, o ciclo reprodutivo dos anfíbios acaba falhando por completo. Muitas espécies fracassam em localizar os corpos d´água distantes das matas, necessários à sua reprodução.

Os filhotes que nascem nos rios também têm dificuldades iguais - ou maiores - para retornar à mata.

A maioria dos registros de declínios do número de anfíbios para o Brasil é da Mata Atlântica, sendo a maior parte dos de espécies endêmicas (que só ocorrem neste Bioma) e com reprodução associada a riachos.

O uso humano da terra, concentrado nas baixadas próximas aos cursos d’água vem contribuindo para que os fragmentos de floresta se concentre nas porções mais elevadas e secas da paisagem, o que leva à desconexão entre as florestas e os corpos d´água; um arranjo fatal para os anfíbios.

Dentre as aproximadas 6000 espécies de anfíbios descritas no mundo inteiras, quase um terço está ameaçada de extinção. Exclusivamente no bioma Mata Atlântica existem aproximadamente 300 espécies.

Este bioma combina uma luxuriante vegetação florestal associada a um relevo particularmente acidentado, e é um dos mais ameaçados hot-spots de biodiversidade (ecossistema de alta diversidade biológica que vem sendo severamente ameaçado pelo desflorestamento).

Partindo deste contexto ecológico, os pesquisadores brasileiros Carlos Guilherme Becker (Unicamp), Carlos Roberto Fonseca (Unisinos), Célio Haddad (Unesp), Rômulo Batista (Unicamp, SDS-AM), e Paulo Inácio Prado (USP) testaram a hipótese batizada por eles de desconexão de habitats como um importante fator no progressivo desaparecimento dos anfíbios.

O trabalho publicado na revista americana Science mostra que os efeitos da desconexão de habitats são catastróficos para os anfíbios da Mata Atlântica, reduzindo drasticamente o número de espécies em várias regiões. As espécies que mais sofrem são as que dependem exclusivamente de riachos para reproduzir.

Uma larga gama de estratégias de conservação tem sido proposta para frear o declínio dos anfíbios no mundo inteiro. Em regiões que vem sofrendo com desmatamento, leis específicas para a conservação das matas ciliares, conectando as áreas naturais terrestres e aquáticas, devem ser reforçadas.

Onde há severa desconexão entre as florestas e os corpos d´água, programas de restauração devem ser conduzidos para reverter os efeitos negativos sobre a diversidade de anfíbios.


Cientistas propõem nova explicação
JC e-mail 3410, de 13 de Dezembro de 2007