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Santa Catarina é campeã de desmatamento da Mata Atlântica



SOS Mata Atlântica e INPE divulgam dados do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica

Estudo indica que a Mata Atlântica está reduzida a 7,26% do que existia originalmente; alta taxa de fragmentação florestal ameaça a biodiversidade do Bioma

Santa Catarina, Minas Gerais e Bahia foram os Estados que mais desmataram no período de 2000-2005, em números absolutos

Mafra, Itaiópolis e Santa Cecília, em Santa Catarina, foram os municípios que mais perderam cobertura nativa no período de 2005-2007, dos 51 analisados

São Paulo, 27 de maio de 2008 - A Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE divulgaram hoje, em entrevista coletiva on-line, a conclusão dos levantamentos do 'Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica'. Marcia Hirota, diretora de Gestão do Conhecimento e coordenadora do Atlas pela SOS Mata Atlântica; Flávio Ponzoni, coordenador técnico do estudo pelo INPE; e Mario Mantovani, diretor de Mobilização da Fundação, apresentaram os dados que mostram que o Bioma está reduzido a 7,26% de sua área original - 1,3 milhões de km² em 17 estados brasileiros; apresentaram também os mapas consolidados para os estados da Bahia, Minas Gerais, Alagoas, Pernambuco e Sergipe, e a avaliação de 2005-2007 dos municípios mais críticos no período 2000-2005. 'Os dados apresentados para o período de 2000-2005 confirmam a redução de 69% na taxa de desmatamento comparada com o período anterior, fato que deve ser comemorado, mas a avaliação recente indica aumento no ritmo de desmatamento nos dois últimos anos, que é muito preocupante', alerta Marcia Hirota. Para ela, tudo que resta de floresta original deve ser protegido por todos.

 

Com base nos levantamentos realizados nas quatro edições do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica e tendo em vista a representatividade para a manutenção da biodiversidade, as informações divulgadas hoje mostram que a área original do Bioma está reduzida a 7,26%, ou seja, 97.596 km2. Este número totaliza os fragmentos acima de 100 hectares, ou 1km2, distribuídos em 17.875 polígonos, e têm como base o mapeamento de 98% do bioma Mata Atlântica, ou 16 dos 17 Estados onde ocorre (PE, AL, SE, BA, ES, GO, MS, MG, RJ, SP, PR, SC, RS, CE, PR, RN e PI), incluindo dados levantados pela ONG Sociedade Nordestina de Ecologia nos estados de CE, PE e RN. Apenas o Piauí não teve a área da Mata Atlântica avaliada.

 

A fragmentação florestal do bioma é um processo extremamente crítico que agrava a proteção da rica biodiversidade existente. Somando todos os fragmentos acima de 3 hectares, existem hoje na Mata Atlântica 234.106 polígonos, que totalizam 142.472 km2, ou seja, 10,6% de florestas nativas. 'Mais de 25 mil polígonos são menores do que 5 hectares, o que reforça a importância dos esforços na restauração florestal da Mata Atlântica. Devido à extrema fragmentação de alguns trechos, principalmente nas regiões interioranas, a interligação entre as florestas nativas torna-se primordial para garantir a proteção da biodiversidade deste bioma', explica Marcia.

 

 

 

Bahia e Minas Gerais

 

O Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica divulga também dados para os estados de Bahia e Minas Gerais, inéditos para o período 2000-2005. A Bahia, que originalmente possuía 20.337.877 hectares de Mata Atlântica, ou 36% de seu território, em 2005 tinha apenas 1.584.572 hectares; o total de desflorestamento no período de 2000-2005 foi de 36.040 hectares. Minas Gerais, que possuía 28.939.588 hectares de florestas naturais, ou 49% do seu território, em 2005 apresentava apenas 1.584.572 hectares de remanescentes florestais; no período entre 2000-2005, o desmatamento foi de 41.349 hectares.

 

'A porção oeste dos estados da Bahia e Minas Gerais, juntos às formações das araucárias de Santa Catarina e Paraná, são as áreas mais críticas para a Mata Atlântica, que merecem atenção especial, pois são os Estados que mais possuem floresta nativa em seus territórios e, consequentemente,  têm grandes áreas desmatadas e em números absolutos. É preciso conter este desmatamento se quisermos garantir a proteção da biodiversidade e os serviços ambientais para a população que vive na área de Mata Atlântica', explica Marcia.

 

Em números absolutos, Santa Catarina é o campeão de desmatamento no período, suprimindo 45.530 hectares de Mata Atlântica. Minas Gerais vem em seguida, tendo desmatado 41.349 hectares; a Bahia está em terceiro lugar, desmatando 36.040 hectares. Os demais Estados são: Paraná, 28.238 hectares; Mato Grosso do Sul, 10.560 hectares; São Paulo, 4.670 hectares; Goiás, 4.059 hectares; Rio Grande do Sul, 2.975 hectares; Espírito Santo, 778 hectares, e, finalmente, Rio de Janeiro, com 628 hectares.

 

'O Estado do Rio de Janeiro, campeão de desmatamento entre 1990 e 1995, teve poucas áreas desflorestadas acima de 3 ha. Neste Estado, houve redução de 85%. Levantamentos de campo identificaram desflorestamentos na ordem de 1 a 2 hectares, o tal 'efeito formiga' - pequenos desmatamentos realizados em série, ainda muito intenso e verificado em áreas menores', conclui Márcia.

 

Situação nos municípios

 

As informações divulgadas hoje mostram também uma análise para o período de 2005-2007 dos 51 municípios apresentados como mais críticos em 2000-2005, e aponta que o município que mais perdeu cobertura vegetal nativa no período foi Mafra (SC), que desmatou 1.735 hectares, seguido de Itaiópolis (SC), que suprimiu 1.076 hectares, e Santa Cecília, também em SC, que desmatou 1.032 hectares. Aparecem em seguida os municípios de Tremedal (BA, 927 ha), Coronel Domingos Soares (PR, 369 ha); Ninheira (MG, 899 ha), Bituruna (PR, 789 ha), e Bom Jesus da Lapa (BA, 796 ha). Em alguns municípios, as condições meteorológicas não permitiram a análise de dados.

 

Segundo o IBGE (2005), o Brasil tem 5.564 municípios, dos quais 3.406 (61%) estão na Mata Atlântica; mais de 120 milhões de brasileiros, ou 67% da população brasileira, vivem nestes municípios (IBGE, 2007).

 

O 'Atlas dos Municípios da Mata Atlântica', subproduto do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, revela a identificação, localização e situação dos principais remanescentes florestais existentes nos municípios abrangidos pela Mata Atlântica. Pelo IPMA (Índice de Preservação da Mata Atlântica) - indicador criado pela SOS Mata Atlântica e o INPE, torna-se possível ranquear os municípios que mais possuem cobertura vegetal nativa. Os dados e mapas podem ser acessados pela internet, nos sites http://www.sosma.org.br/ e www.inpe.org.br.

 

 

A Mata Atlântica é aqui

 

A Mata Atlântica, complexo e exuberante conjunto de ecossistemas de grande importância, abriga parcela significativa da diversidade biológica do Brasil, reconhecida nacional e internacionalmente no meio científico. Lamentavelmente, é também um dos biomas mais ameaçados do mundo devido às constantes agressões ou ameaças de destruição dos habitats nas suas variadas tipologias e ecossistemas associados.

 

Distribuída ao longo da costa atlântica do país, atingindo áreas da Argentina e do Paraguai na região sudeste, a Mata Atlântica abrangia originalmente 1.300.000 km² no território brasileiro. Seus limites originais contemplavam áreas em 17 Estados, (PI, CE, RN, PE, PB, SE, AL, BA, ES, MG, GO, RJ, MS, SP, PR, SC e RS), o que correspondia a aproximadamente 15% do território do Brasil, segundo Decreto Federal 750/93 e Lei específica, a 11.428/06, que dispõe sobre a utilização e a proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica.

 

Nessa extensa área, vivem atualmente 67% da população brasileira (IBGE, 2007), ou seja, mais de 120 milhões de habitantes, em 3.406 municípios abrangidos, que correspondem a 61% dos existentes no Brasil (IBGE, 2005).

 

O alto grau de interferência na Mata Atlântica é conhecido. Desde o descobrimento do Brasil pelos europeus, os impactos de diferentes ciclos de exploração, da concentração das maiores cidades e núcleos industriais e da alta densidade demográfica em sua área, entre outras atividades, fizeram com que a vegetação natural fosse reduzida drasticamente.

 

 

Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica

 

A realização do 'Atlas dos remanescentes florestais e ecossistemas associados do Bioma Mata Atlântica nos períodos 1985-1990, 1990-1995, 1995-2000, 2000-2005', desenvolvido pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, representa um grande avanço na compreensão da situação em que se encontra a Mata Atlântica.

 

O primeiro mapeamento do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, publicado em 1990 pela SOS Mata Atlântica e o INPE, com a participação do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis),  teve o mérito de ser um trabalho inédito sobre a área original e a distribuição espacial dos remanescentes florestais da Mata Atlântica e tornou-se referência para pesquisa científica e para o movimento ambientalista. Foi desenvolvido em escala 1:1.000.000.


Em 1991, a SOS Mata Atlântica e o INPE deram início a um mapeamento em escala 1:250.000, analisando a ação humana sobre os remanescentes florestais e sobre as vegetações de mangue e de restinga entre 1985 a 1990. Publicado em 1992/93, o trabalho avaliou a situação da Mata Atlântica nos dez Estados - Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul - que apresentavam a maior concentração de áreas preservadas. Os estados do Nordeste não puderam ser avaliados pela dificuldade de obtenção de imagens de satélite sem cobertura de nuvens.

 

Uma nova atualização ocorreu em 1998, desta vez cobrindo o período de 1990-1995, com a digitalização dos limites das fisionomias vegetais da Mata Atlântica e de algumas Unidades de Conservação federais e estaduais, elaborada em parceria com o Instituto Socioambiental.

 

Entre o período de 1995-2000, fez-se uso de imagens TM/Landsat 5 ou ETM+/Landsat 7 analisadas diretamente em tela de computador, permitindo a ampliação da escala de mapeamento para 1:50.000 e conseqüentemente a redução da área mínima mapeada para 10 hectares. No levantamento anterior, foram avaliadas as áreas acima de 25 hectares. Os resultados revelaram novamente a situação da Mata Atlântica em 10 dos 17 estados - a totalidade das áreas do bioma Mata Atlântica de Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e áreas parciais da Bahia - que abrangeram nesta etapa 1.185.000 km2, ou seja, 94% da área total do Bioma Mata Atlântica.


Em 2004, a SOS Mata Atlântica e o INPE lançaram o 'Atlas dos Municípios da Mata Atlântica', de forma a fornecer instrumentos para o conhecimento, o monitoramento e o controle para atuação local. A partir da identificação e da localização dos principais remanescentes florestais existentes nos municípios abrangidos pela Mata Atlântica, cada cidadão, diferentes setores e instituições públicas e privadas puderam ter fácil acesso aos mapas por meio da internet e se envolver e atuar em favor da proteção e conservação deste conjunto de ecossistemas. O desenvolvimento da ferramenta de publicação dos mapas na internet foi realizado pela ArcPlan, utilizando tecnologia do MapServer (Universidade de Minnesota), com acesso nos portais http://www.sosma.org.br/ e www.dsr.inpe.br

 

Ao final de 2004, as duas organizações iniciaram a atualização dos dados para o período de 2000 a 2005. Esta edição também foi marcada por aprimoramentos metodológicos e novamente foram revistos os critérios de mapeamento, dentre os quais se destaca a adoção do aplicativo ArcGis 9.0 que permitiu a visualização rápida e simplificada do território de cada Estado contido no Bioma Mata Atlântica. Isso facilitou e deu maior segurança nos trabalhos de revisão e de articulação da interpretação entre os limites das cartas topográficas.

 

A quarta edição do 'Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica' apresenta dados atualizados em 13 estados abrangidos pelo bioma (PE, AL, SE, BA, GO, MS, MG, ES, RJ, SP, PR, SC, RS). Um relatório apresenta a metodologia e os resultados quantitativos da situação dos remanescentes da Mata Atlântica desses estados e os desflorestamentos ocorridos no período de 2000-2005 em 10 estados, da Bahia ao Rio Grande do Sul. Esta fase manteve a escala 1:50.000, e passou a identificar áreas acima de 3 hectares e o relatório técnico, bem como as estatísticas e os mapas, imagens, fotos de campo, arquivos em formato vetorial e dados dos remanescentes florestais, por Município, Estado, Unidade de Conservação, Bacia Hidrográfica e Corredor de Biodiversidade.

 

Em 2008, estão sendo divulgados os números atualizados a partir de análises da quarta edição do Atlas, incluindo os Estados de Bahia, Minas Gerais, Alagoas, Pernambuco e Sergipe, que somados ao mapeamento dos estados de Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará gerados pela ONG Sociedade Nordestina de Ecologia, totalizam 16 dos 17 Estados onde o Bioma ocorre, ou 98% de Mata Atlântica.

 

Os trabalhos envolvem ainda outros esforços em defesa da Mata Atlântica, especialmente aqueles com foco nos programas para políticas de conservação: no ano de 2005, deu-se início ao projeto 'De olho na Mata', cuja área-piloto foi a região do litoral norte do Estado de São Paulo e o sul fluminense, de forma a mapear a dinâmica do uso da terra e analisar o impacto que a urbanização descontrolada causa no ambiente e na qualidade de vida da população. Este projeto conta com o patrocínio da empresa Klabin; o Atlas dos Municípios da Mata Atlântica foi lançado em 2005 e  revelou a situação da Mata Atlântica de 2000 em 2.815 cidades de 10 dos 17 Estados que são abrangidos pelo bioma (Bahia, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), e mostra os índices de representatividade da vegetação de mangue e restinga.

O Atlas ainda apresenta o IPMA (Índice de Preservação da Mata Atlântica) - indicador criado pela SOS Mata Atlântica e o INPE - com o ranking dos municípios que possui vegetação nativa da Mata Atlântica.  Até então, os dados eram divulgados somente por Estado. 'Este Atlas tem se apropriado do desenvolvimento tecnológico na área da informação, do geoprocessamento e do sensoriamento remoto. Em cada edição, vários aprimoramentos foram realizados e alguns estudos qualitativos estão sendo realizados, de forma a subsidiar as pesquisas e contribuir cada vez mais ao conhecimento sobre o Bioma', afirma Flavio Ponzoni, coordenador do Atlas pelo INPE. Em 2008, está sendo divulgada a situação do desmatamento para o período de 2005-2007 nos 51 municípios que mais devastaram no período de 2000-2005.