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Parque Nacional Serra do Itajaí tem 18 espécies em extinção



Aimensidão verde que cobre os 57 mil hectares do Parque Nacional da Serra do Itajaí e passa por nove municípios enche ainda mais os olhos com as 808 espécies - 336 de plantas e 472 de animais vertebrados - que concentra. Mas parte desta beleza está ameaçada. O diagnóstico da fauna e da flora do Parque Nacional da Serra do Itajaí - desenvolvido há nove meses pela Associação Catarinense de Preservação da Natureza (Acaprena) - aponta que a área abriga 18 espécies que correm risco de extinção, como o puma e a peroba.

No caso dos animais, pesquisadores usaram métodos diretos (de visualização) e indiretos (armadilhas, sensores fotográficos e vestígios, como rastros e tocas) para identificá-los. O registro de várias espécies de carnívoros refletiu a importância do parque na preservação, já que cerca de 40% das espécies encontradas estão ameaçadas de extinção. Constatou-se também a presença mais comum de animais como o cachorro-do-mato e mão-pelada (guaxinim). O levantamento foi feito em oito áreas do parque.

- A caça é um sério problema. Com exceção de uma área amostral, todas as outras demonstraram vestígios da prática, como cartuchos e acampamentos. Mas é um cenário que vem mudando com a fiscalização - comenta a responsável técnica pelo levantamento dos mamíferos do parque, a bióloga Cintia Gizele Gruener.

Segundo ela, a anta e a onça pintada foram extintos do parque por conta do crime ambiental. Das plantas, os pesquisadores identificaram a canela preta, peroba, sassafras e imbuia como espécies que correm risco de ser extintas.

- As áreas que fizemos a pesquisa tiveram intenso processo de intervenção, com pastagem ou corte madeireiro. Mesmo assim, ainda encontramos quatro espécies ameaçadas de extinção - comemora a bióloga Sheila Mafra Ghoddosi, que coordenou o levantamento da flora.

O diagnóstico da fauna e da flora é considerado a primeira pesquisa mais ampla sobre o parque nacional. Desde a década de 80, os pesquisadores têm trabalhado apenas na área do Parque das Nascentes - que passou a fazer parte do Parque Nacional da Serra do Itajaí - , onde se tem registros mais aprofundados e estudos de longo prazo.

(
magali.moser@santa.com.br )

Plano de Manejo
O diagnóstico da fauna e da flora faz parte do Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra do Itajaí. A previsão é de que o documento seja concluído até setembro, quando será encaminhado para o Ibama para aprovação. Com a função de definir diretrizes de ações do parque, o Plano de Manejo vai traçar estratégias de gestão, manejo e preservação.
O diagnóstico
A fauna
O levantamento apontou que o parque abriga 472 espécies de animais vertebrados, sendo 320 de aves, 69 de mamíferos, 45 anfíbios, 23 peixes, 15 répteis e 159 borboletas. Das espécies ameaçadas de extinção, três são anfíbios, cinco aves e seis mamíferos.
Algumas das espécies de mamíferos encontrados no parque:
- Bugio: são robustos e de pêlos longos. Alimentam-se principalmente de folhas, mas também apreciam frutos.
- Puma: Felino ágil e veloz que precisa de grandes áreas para viver. Demarca o território através de arranhões no solo. A visão é o seu sentido mais aguçado.
- Gato-do-mato-pequeno, gato-maracajá: São felinos de pequeno porte que possuem hábito noturno, permanecendo escondidos durante o dia.
- Mão-pelada ou guaxinim: espécie noturna, solitária, cujo hábitat está restrito às proximidades de cursos dágua. A coloração geral é cinza escuro com tons amarelados e as mãos são desprovidas de pêlos.
- Cachorro-do-mato ou graxaim: espécie generalista e oportunista, sendo sua dieta formada por frutos, pequenos vertebrados, insetos, crustáceos e peixes, além de carniça.
- Veados: Ficam escondidos na vegetação densa nas primeiras semanas de vida e permanecem com a mãe durante oito meses ou até o nascimento da próxima cria. Alimentam-se de frutas, flores e folhas.
A flora
A vegetação que cobre o Parque Nacional da Serra do Itajaí é a Floresta Atlântica. São 336 espécies caracterizadas por árvores que necessitam altos índices de chuvas, sendo riquíssima em biodiversidade. Das espécies catalogadas, quatro são consideradas ameaçadas de extinção: canela preta, peroba, sassafras e imbuia.
Espécies em extinção*
Fauna
Aves
Gavião-pombo-pequeno
Papagaio-peito-roxo
Papo-branco
Maria-da-restinga
Pichochó
Anfíbios
Rã da bromélia
Rã da Ilha
Mamíferos
Puma ou onça parda
Gato-do-mato-pequeno
Gato-maracajá
Jaguatirica
Veado bororó
Rato-do-mato-vermelho
Flora
Canela Preta
Sassafras
Imbuia
Peroba
* As espécies de animais e plantas constam das listas da fauna e flora brasileiras ameaçadas
de extinção, elaboradas pelo Ibama e pelo Ministério do Meio Ambiente em 2003.
Fonte: Cintia Gruener e Sheila Mafra Ghoddosi
O Parque Nacional da Serra do Itajaí
Criado por decreto presidencial em 4 de junho de 2004, o parque é caracterizado como uma Unidade de Conservação de Proteção, com o objetivo básico de preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais. Possui 57.374 mil hectares, abrange áreas dos municípios de Apiúna, Ascurra, Blumenau, Botuverá, Gaspar, Guabiruba, Indaial, Presidente Nereu e Vidal Ramos.

Fauna e flora devem ser recuperadas

Com o início da avaliação das indenizações dos moradores do Parque Nacional da Serra do Itajaí (PNSI), prevista para agosto, a expectativa é de que a fauna e a flora entrem em processo de recuperação. Para o biólogo e ecólogo Lauro Bacca, defensor da implantação do parque desde 1980, esta será uma conseqüência natural e vai estimular a cultura de caminhada e turismo na região, através de trilhas.

- O prazer de cruzar uma área selvagem e fugir da civilização sempre terão adeptos. Pode se tornar uma tradição na região. Mas para isso é preciso garantir a preservação das áreas naturais - observa.

Para ele, as funções principais de uma unidade de conservação são a garantia da vida e a conservação da sobrevivência do maior número possível de espécies. O parque também funciona como protetor de mananciais e de solos, regulador climático e ajuda a minimizar efeitos de enchentes e enxurradas.

- 50% das espécies de árvores e arbustos de Santa Catarina estão dentro do parque nacional, o que confirma a importância da área para conservação de espécies - destaca a professora Lúcia Sevegnani, doutora em ecologia.

- O número de espécies ameaçadas de extinção pode aumentar para pelo menos o dobro. É preciso uma amostragem anual. Planejamos estudos para isso - adianta o presidente da Acaprena, Rudi Ricardo Laps.




Jornal de Santa Catarina