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João teimoso



Blumenau - Dois meses de trabalho para contruir uma casa, perdê-la e, sem medir as causas do desastre, voltar a construir do mesmo jeito, no mesmo lugar. A teimosia de um casal de joões-de-barro, que repetiu a façanha quatro vezes em quatro anos, surpreendeu moradores da Rua Estanislau Schaette, que acompanham as tentativas dos pássaros, e também um biólogo do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) da Furb. Tudo porque esse casal escolheu como terreno para o ninho uma folha de palmiteiro.

- Se bate vento ou chove, cai tudo no chão. Ele até muda pra folha do lado, pra ver se dá certo, mas é muito teimoso. Uma vez ele construiu uma casa num poste. Está lá, mas ele agora quer o palmiteiro - conta José Jovencio Fernandes, 68 anos, vizinho das aves.

José, aposentado, gosta de observar os pássaros em volta de casa e conta que já viu outras aves da mesma espécie por lá, mas todos construíram a casa em cerca de dois meses, tiveram filhotes e foram embora.

O biólogo Carlos Eduardo Zimmermann, professor de Conservação do Meio Ambiente e pesquisador do IPA, se espantou ao ver a foto do ninho:

- Nunca vi um joão-de-barro fazer o ninho em lugar que não tenha sucesso. Seria como fazer uma casa de material em cima de um banhado.

Pássaros normalmente constróem em local seguro

Os locais adotados normalmente pelos joões-de-barro para construir o ninho onde se reproduzem são tocos de árvores, flamboyants e guarapuvus (árvores com troncos grossos) ou postes.

Os novos vizinhos de José Fernandes pegam o barro atrás da casa dele e carregam o material com o bico até o palmiteiro. Começam a fazer a casa por baixo e já estão quase terminando mais uma construção. No entanto, até na forma do abrigo eles demonstram falta de talento.

- Parece que se esforçam muito, mas o formato está errado. É estranho porque a capacidade de fazer um ninho é instintiva para essa espécie - observa Zimmermann.

Veronica Fernandes, 66 anos, esposa de José, também não encontra explicação para a falta de habilidade. Olha para a obra, leva as mãos à cintura e balança a cabeça, decepcionada:

- Não sei. Vai cair de novo. Ele é muito bobo, porque trabalha, trabalha e nunca chega a lugar nenhum.

Apesar da fragilidade, a morada resistiu à chuva de ontem.

(
daniel.souza@santa.com.br )

A espécie
- Nome científico: Furnarius rufus
- Tempo de vida: 4 a 6 anos, em média
- Ninhada: tem, em média, dois filhotes
- Espécie comum em todo Brasil
- Prefere ambientes abertos tanto no meio rural quanto no urbano
- Historicamente, aproveitou o desmatamento depois da imigração européia para se distribuir em Blumenau
Fala, vizinho
"Se bate vento ou chove, cai tudo no chão. Ele até muda pra folha do lado, pra ver se dá certo, mas é muito teimoso. Uma vez ele construiu uma casa num poste. Está lá, mas ele agora quer o palmiteiro."
José Jovencio Fernandes, 68 anos, vizinho das aves
"Não sei. Vai cair de novo. Ele é muito bobo, porque trabalha, trabalha e nunca chega a lugar nenhum."
Veronica Fernandes, 66 anos, vizinha das aves



Casal de joões-de-barro constrói ninhos que já caíram quatro vezes
Jornal de Santa Catarina