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Brasil poderá ter meta no clima, afirma Carlos Minc



O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse ontem (sexta-feira) que o ministério discute com o Itamaraty a adoção de metas para cortes de gases-estufa para o período pós-Kyoto e afirmou que a área econômica do governo é favorável à medida.

Segundo ele, a meta poderia equivaler a um terço do que for adotado pelos países ricos a partir de 2013. "Hoje, dentro do Ministério da Fazenda, a posição é a favor das metas por causa dos benefícios que a gente vai ter assumindo metas. A gente vai poder entrar numa partilha de bens para cumprir essas metas muito mais fortemente."

Ele se antecipa às críticas que sua afirmação possa sofrer: "Uma coisa é o maluco do Minc dizer que vai cumprir metas (...). Outra coisa é o Ministério da Fazenda. Significa que alguma coisa existe. Há vantagens".

Nas negociações, até agora, o Itamaraty sempre rejeitou a adoção de metas obrigatórias. O ministro falou pela primeira vez sobre a mudança de posicionamento do governo em reportagem do jornal "Valor Econômico" de quinta-feira. "Se for 36% de corte para os países ricos até 2025, seria 12% para o Brasil, por exemplo", declarou Minc à Folha ontem.

Além de metas bem diferentes em relação às das nações desenvolvidas, outras condições do Brasil seriam a transferência de recursos e de tecnologia por parte dos países ricos.

Para atingir a meta, Minc diz que o principal alvo será o desmatamento da Amazônia, que hoje representa cerca de 70% das emissões do Brasil.

No entanto, o Plano Nacional de Mudança Climática, elaborado pela equipe dele, não prevê nenhuma meta de redução de desmate.

Minc afirmou que até o fim do ano pelo menos duas empresas anunciarão doações para o Fundo Amazônia, e que Petrobras, Wal-Mart e AES já tiveram reuniões com o ministério e estão interessadas em investir. O fundo prevê que países e empresas doem dinheiro para o Brasil e que esse dinheiro possa ser usado sempre que o país conseguir reduzir o desmatamento abaixo de um certo patamar, mitigando suas emissões. Foi criado ontem no Rio o comitê orientador do fundo.

Segundo Minc, o governo vai organizar um "road show" com apoio do BNDES para atrair a atenção do setor privado para o fundo. O primeiro passo será a apresentação de informações sobre ele na conferência do clima na Polônia, em dezembro.

A estratégia do governo é aproveitar a discussão com os países desenvolvidos e a perspectiva de que a maioria não será capaz de cumprir as regras de redução das emissões para aumentar as captações.

Os recursos poderão ser usados para gestão de florestas, monitoramento e fiscalização. O único país que anunciou apoio ao fundo até agora foi a Noruega, com US$ 140 milhões no primeiro ano.



Folha de S.Paulo