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OMS tenta elaborar um plano para a gripe suína



A Organização Mundial de Saúde (OMS) tentou determinar neste domingo (26) como vai combater a mortal nova cepa de gripe suína, realizando teleconferências com equipes e especialistas em gripe ao redor do mundo, enquanto países que vão da Nova Zelândia à França anunciaram que estão monitorando casos suspeitos. Contudo, a OMS não conseguiu formular medidas específicas para deter a doença, se limitando a exortar os governos a aumentar sua supervisão dos casos suspeitos, mas deixando decisões adicionais a cargo de cada governo.

Os governos através da Ásia iniciaram quarentenas com pessoas com sintomas do vírus mortal e alguns emitiram alertas contra viagens para o México. Alguns países também aumentaram sua fiscalização nos porcos e carne de porco importada das Américas ou proibiram ambos completamente, apesar das autoridades de saúde terem reassegurado que é seguro comer a carne de porco cozida.

Em um segundo dia de reuniões de alto nível, a diretora geral da OMS, Margaret Chan, e consultores seniores tentaram determinar que medidas a agência poderia recomendar para deter a disseminação do surto, que ela classificou de uma emergência de saúde pública com "potencial" de se tornar uma pandemia, porque o vírus pode ser transmitido de humano para humano.

"Os países foram estimulados a fazer qualquer coisa que eles sintam que será uma medida preventiva", disse a porta-voz da OMS Aphaluck Bhatiasevi. "Todos os países precisam fortalecer sua monitoração."

Suspeitas - A Nova Zelândia disse que 10 estudantes que fizeram uma excursão de escola para o México "provavelmente" estão infectados com a gripe suína. Israel disse que um homem que recentemente visitou o México foi hospitalizado enquanto as autoridades tentam determinar se ele tem o vírus mortal. A França disse que cinco pessoas que retornaram do México com febre estão sendo monitorados em regiões próximas as cidades portuárias de Bordeaux e Marselha.

Na Espanha, o Ministério da Saúde informou que seis pessoas que acabaram de voltar do México estavam sob observação em hospitais na região norte do País Basco, no sudeste de Albacete e na cidade portuária de Valência, na costa do Mediterrâneo.

As autoridades de saúde da província de Nova Escócia, no Canadá, confirmaram quatro casos de gripe suína no país. O chefe de Saúde Pública, doutor Robert Strang, disse neste domingo (26) que quatro estudantes da King's-Edgehill School na Nova Escócia, com idades entre 12 anos a 17-18 anos, estavam se recuperando da doença. Todos eles tiveram o que ele descreveu como casos "bastante moderados" da gripe suína.

Os governos devem reportar qualquer caso incomum de gripe à OMS e a agência estava considerando se emitiria recomendações não obrigatórias sobre viagens e restrições comerciais e até mesmo fechamento de fronteiras.

O vírus da gripe H1N1 é subsistema da gripe A que é uma combinação dos vírus da gripe aviária, suína e humana, segundo a OMS. Os sintomas incluem uma febre de mais de 37,8 graus Celsius, dores no corpo, tosse, dor de garganta, congestão respiratória e, em alguns casos, vômito e diarreia.

Pelo menos 81 pessoas morreram de uma severa pneumonia causada por doença parecida com a gripe no México, segundo a OMS. O vírus é normalmente contraído através do contato direto com porcos, mas Joseph Domenech, chefe do serviço de saúde animal da Agência de Alimentos e Agricultura da ONU (FAO, na sigla em inglês) em Roma, disse que todas as indicações eram que o vírus está se espalhando através da transmissão de humano para humano. Nenhuma vacina protege especificamente contra a gripe suína e não está claro o grau de proteção que as atuais vacinas contra a gripe pode oferecer.

Segundo as autoridades mexicanas, nas últimas 24 horas, a gripe suína matou mais cinco pessoas na Cidade do México, o que fez subir para 15 os mortos pela doença na capital do país. O chefe do Governo local, Marcelo Ebrard, disse que o balanço na cidade é de 73 pessoas internadas, 59 liberadas após exames "e cinco mortes (...) em diferentes hospitais".

Já o secretário de Saúde da capital, Armando Ahued, informou que, só ontem, 16 mil telefonemas foram dados a centros de atendimento e 5.902 pessoas foram se consultar em centros de saúde. Destas, 5.289 apresentavam um quadro de infecção respiratória aguda, mas apenas 298 foram declaradas clinicamente suspeitas, das quais 25 foram internadas.

O nível de alerta de pandemia da OMS está atualmente na fase 3. A agência disse que esse nível para ser elevado para fase 4 se o vírus mostrar habilidade sustentada de passar de humano para humano. A fase 5 seria alcançada se o vírus for encontrado em pelo menos dois países na mesma região.

"A declaração da fase 5 é um forte sinal de que uma pandemia é iminente e que o prazo para finalizar a organização, comunicação e implementação de medidas de atenuação é curto", disse a OMS. A fase 6 indicaria uma pandemia de escala global.

Reações - O México fechou escolas, museus, bibliotecas e teatros em uma tentativa de conter o surto depois de centenas terem contraído a doença. Além de mandar fechar as escolas e as universidades por nove dias, o chefe do Governo ordenou a suspensão das audiências no Tribunal Superior de Justiça e na Junta de Conciliação e Arbitragem. Também neste domingo permanecerão fechados os zoológicos de Chapultepec e o de San Juan y Aragón, que tradicionalmente recebem muitas visitas nos fins de semana.

O objetivo, disse Ebrard, é "reduzir a propagação do vírus na cidade a todo custo": Além disso, "vamos convidar as empresas da cidade a reduzir ao máximo suas atividades. Estamos num momento crítico. Esta semana será critica, e hoje também é um dia crítico. Temos que fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para frear a propagação" do vírus, disse o chefe do Governo da capital mexicana.

Hong Kong e Taiwan disse que os cidadãos que voltaram das áreas afetadas com febre seriam colocadas em quarentena. A China disse que qualquer pessoa que sentir sintomas da gripe no período de duas semanas após a chegada de uma área afetada terá de se reportar as autoridades.

O aeroporto internacional de Narita, em Tóquio (Japão), instalou um aparelho que testa a temperatura dos passageiros que chegam do México. Além disso, o ministro de Agricultura do Japão, Shigeru Ishiba, apareceu na tevê para acalmar os consumidores, dizendo que era seguro comer carne de porco.

A Indonésia aumentou a supervisão em todos os pontos de entrada para viajantes com sintomas parecidos com a gripe - usando aparelhos nos aeroportos que foram instalados há anos para monitorar a SARS (síndrome respiratória severa e aguda) e a gripe aviária. O governo da Indonésia disse que está pronto para colocar os pacientes suspeitos em quarentena se necessário.

A agência de saúde da Rússia disse que qualquer passageiro procedente da América do Norte com febre seria colocado em quarentena até que o motivo da febre seja determinado.

O país também anunciou a proibição das importações de carne do México, de vários estados dos Estados Unidos e de nove países latino-americanos, anunciou um porta-voz do primeiro-ministro Vladimir Putin.

A proibição imediata foi imposta depois de Putin ter ordenado o estabelecimento de uma comissão especial para lidar com a ameaça da gripe suína, apesar de nenhum caso ter sido reportado na Rússia até agora.

As importações de toda carne crua e produtos feitos com carne do México e dos estados americanos do Texas, Califórnia e Kansas, embarcadas após 21 de abril estão proibidas "até instruções especiais", disseram autoridades de saúde.

A proibição é válida também para as importações de carne crua de porco da Guatemala, Honduras, República Dominicana, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Nicarágua, Panamá e El Salvador, embarcadas após 21 de abril.

As importações de carne de porco dos estados americanos do Alabama, Arizona, Arkansas, Georgia, Kansas, Louisiana, Novo Mexico, Oklahoma e Florida também estão proibidas.

Os governos de Hong Kong e da Coreia do Sul emitiram alertas contra viagens a capital do México e três províncias afetadas. O Ministério da Saúde da Itália também aconselhou os cidadãos a adiarem viagens para as áreas afetadas.


Estadão Online